domingo, 7 de março de 2010

O abstrato, Pollock e outras miragens



Sou um admirador da arte abstrata e, em especial, do pintor americano Jackson Pollock.



A linguagem abstrata representa, para mim, uma ampla possibilidade de comunicação semiótica, que não parte de nenhuma conceituação pré-estabelecida. Pelo contrário, sinto-me à disposição da arte para com ela estabelecer uma relação de amplitude sígnica.

Estar diante de signos não conceituais me leva a uma contemplação meditativa. Tudo se amplifica. O abstrato me integra, me simplifica.

Não penso quando estou diante de uma obra abstrata. Se pensar, é miragem. Entretanto, há uma repercussão, mas não em nível racional. Difícil dizer do que se trata essa repercussão. É possível que ela esteja envolta em uma consciência não verbalizável.



Foi Jackson Pollock quem me levou pela primeira vez a essa vivência, e acho que é por isso que admiro tanto a sua obra. Seria perfeito se pudesse contar com um exemplar ao alcance diário da minha visão. Quem sabe um dia. Só sei que foi, como diria Manuel Bandeira, o meu primeiro alumbramento em pintura. O que para muitos é apenas um amontoado de riscos que qualquer criança faria, para mim é algo indescritivelmente profundo. Seria muito bom se todos pudéssemos evocar tantas significações subjetivas simplesmente através de um breve recolhimento em que produzíssemos algo que acreditássemos como um amontoado de riscos.



A arte abstrata é o ventre escancarado de uma alma - e é impossível para mim passar em branco diante de tal hemorragia de signos. O abstrato se transcende e se une a seu observador como em uma interação cósmica.



Pode ser muito bom ter visão.




Obervação: todas as imagens são reproduções pictóricas de obras de Jackson Pollock, nascido em 1912, no Wyoming, Estados Unidos, e falecido em 1956, em um acidente de carro. Pollock é conhecido por desenvolver a técnica chamada dripping e a action painting, em que projetava sua arte a partir de uma primeira sugestão produzida pelo gotejar da tinta e seu escorrimento natural pela tela. Uma boa dica aos interessados é assistir o filme Pollock (Pollock, 2000), dirigido e estrelado pelo ator Ed Harris.

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