terça-feira, 13 de julho de 2010

Política e leitura: um vínculo burrocratizado

Com esta postagem aproveito para inaugurar um novo tema que pretendemos trazer à discussão neste blog: política. Creio que não há época mais propícia para tanto que os meses que antecedem as eleições nacionais para governador, deputados, senadores e presidente da República.

Mas o que vem a ser, afinal, política? Quando fui professor de Literatura, e nas vezes em que ministrei seminários e oficinas de leitura e poesia, me surpreendia a rejeição dos alunos para com tematizações acerca de política. Me surpreendia porque, afinal de contas, estávamos dispostos conforme determinadas políticas sociais. A própria rejeição dos alunos configurava, no fim das contas, um tipo de política. Tudo é política, desde a maneira com que você se dispõe no meio familiar, a maneira com que interage nesse e em outros meios sociais e até a preferência que você dá, no barzinho da escola, por um salgadinho Elma Chips em detrimento daquela sopa de legumes oferecida pelas merendeiras. A questão, penso, é conceber política única e exclusivamente como uma mobilização eleitoral, e isso é reflexo de uma equivocada concepção educacional e cultural brasileira.

O assunto, enfim, é longo e complexo, e envolveria uma história cultural e sociológica da política para tentarmos chegar a uma compreensão mais coerente do (des)fenômeno que encerrou, no Brasil, as relações individuais para com as manifestações dessa e nessa ordem. Proponho, então, que o assunto continue daqui em diante, quando oportuno.

O que gostaria de comentar são os altos preços cobrados pelos livros no Brasil. Soube, há bastante tempo, de um projeto que tramitava em esferas governamentais e que sugeria que não fossem mais cobrados impostos para a fabricação e comercialização de livros, subtraindo valores de seu custo final e, assim, estimulando a compra. Ora, de fato seria uma proposta de cunho político das mais inteligentes na história brasileira, mas não sei em que pé se encontra hoje em dia. Lamentável que propostas como essas emperrem, imagino, em burocracias, porque representariam um adendo significativo na sofrida tentativa que o governo brasileiro faz, há muito tempo, de desenvolver um plano nacional integral para a educação. Sendo a leitura ponto crucial para o letramento que se quer instaurar nacionalmente em nível escolar, não seria prudente, então, viabilizar de maneira mais condizente com a ideia geral o acesso dos leitores - ou futuros leitores - aos livros? Hoje em dia, se a escola deseja abastecer-se com livros, precisa mendigar verba ou esperar por alguma filantropia. Um absurdo, ainda mais porque, se depender do poder público, as bibliotecas escolares vão ficar cada vez mais cheias de manuais didáticos e/ou livros infantis pedagogicamente estúpidos, até porque os cargos públicos, que definem a compra e distribuição desses materiais, geralmente não sabem nem o que é literatura - talvez porque leem tão somente Paulo Coelho em busca da inspiração que jamais foram capazes de conseguir enquanto viveram.

Voltarei ao assunto, que me interessa bastante, mas desde já digo que, se quiserem mesmo incentivar a leitura, parem de cobrar impostos sobre os livros. Esse poderia ser um primeiro passo. Se as escolas sofrem por falta de verba ou incompetência, o leitor fora das escolas precisa penar para adquirir, muitas vezes, um mísero livrinho por mês. Ora, todo o conhecimento que o mundo produziu em sua história - ou quase todo - está nos livros. Sabemos que cerca de 46% do preço final de um produto constitui-se em função dos impostos que o fabricante teve que pagar para levá-lo ao comércio. Estamos, pois, impossibilitados de ter acesso a esse conhecimento porque governantes creem que 46% do valor de um livro ainda são necessários para tocar o país - ou talvez pagar a hospedagem em um belo apartamento em Fernando de Noronha.


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