domingo, 5 de setembro de 2010

Alucinações musicais

Este livro de Oliver Sacks, autor de O tempo de despertar, é um deleite para todo amante da música e do cérebro. Particularmente, sempre tive uma relação próxima com a música, mais passiva na infância, apenas ouvindo, não muito frequentemente confesso, e sentindo os sentimentos que ela me provocava, e posteriormente, aos 23 anos, aprendendo a tocar um instrumento. Com o cérebro, acredito que esta relação vem de mais tempo, sempre fui um entusiasta deste fantástico órgão humano e todos os seus segredos (ao ponto de comprar o livro Princípios da neurociência e começar a lê-lo sequencialmente e sem falar que ele me custou mais que toda o valor de uma bolsa de iniciação cientifica na época).



Ganhei este livro de minha namorada no natal de 2007 e o li no Janeiro seguinte, grande parte durante a praia, fato este que me fez ficar maior parte do tempo de baixo do guarda sol fazendo a manutenção do meu tradicional bronzeado de programador de computadores.

Aviso o leitor que podem haver algumas revelações sobre o livro nas linhas a seguir. Tentei sempre colocar apenas o suficiente para instigar a leitura dele mas é possível que muitos não gostem destas revelações caso queiram lê-lo. Em síntese, se você gosta de música ou de assuntos relacionados ao cérebro é provável que irá gostar deste livro, se gosta de ambos os assuntos, certamente irá.


A primeira história do livro é de um homem que é atingido por um raio ao realizar uma ligação telefônica em um orelhão. O homem passa por um experiência de quase morte e sobrevive aparentemente sem sequelas. Porém, após o incidente surge nele um desejo incontrolável de ouvir música de piano. Do desejo de escutar surgiu o desejo de tocar. De tão aficionado pela música ele inclusive perdeu sua esposa !


Alucinações musicais, um capítulos específico do livro, traz casos realmente intrigantes de pessoas que realmente ouvem música em sua cabeça. Um garoto escutava muita música em sua mente, produzida por seu cérebro por mecanismos até então desconhecidos, tornou-se músico profissional e adquiriu o ouvido absoluto. Aliás, no livro tem um capítulo bastante interessante apenas sobre o ouvido absoluto cujo o título é "O Papa assoa o nariz em sol: o ouvido absoluto". Há também quem acredite que Mozart, além do ouvido absoluto, também ouvia música em sua mente e assim tinha o trabalho de apenas passar o que ele escutava para partituras.

Quanto as alucinações musicas posso dizer que ao menos uma vez me lembro que tive uma. Uma época, já morando aqui em Santa Maria, eu sempre colocava o CD 2 do The Wall do Pink Floyd para tocar ao chegar em casa do trabalho. Me lembro de ter feito isto vários dias. Um dia cheguei em casa e apertei o mesmo botão que sempre apertava para que a bandeja com o referido CD começasse a tocar. Comecei a escutar o início de "Hey you" porém alguns minutos depois fui ver o motivo pelo o qual o CD não estava mais tocando e me deparei com o aparelho de som desligado da tomada.

Outro aspecto interessante do livro trata-se da parte que fala sobre a musicoterapia. Desde como se aproximar de crianças autistas com a música até como recuperar, ou melhor, ter acesso a memórias de pessoas com afasia e graves lesões cerebrais . Pacientes com doença de Parkinson e síndrome de Tourette, que tem seus sintomas atenuados ao escutar música, também ganharam um capítulo específico.

Oliver Sacks relata vários casos de especificidades musicais, não apenas alucinações, e, sempre que possível, seu par biológico relacionado. Uma obra genial que só a experiência de muitos anos de uma pessoa vivaz podem conceber.

2 comentários:

  1. Interessantíssimo livro, Josué. Uma dica de leitura ótima para quem tem interesse em estudos sobre fenômenos musicais. Vou ter que ler, claro! Obrigado!

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  2. Grande Felten !! Um virtuose da leitura e da escrita !! :)

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