sábado, 26 de fevereiro de 2011

Superinflação

Chegamos à rodoviária de Florianópolis duas ou três horas antes do embarque para retornar a Santa Cruz do Sul. Cerca de dez horas de viagem selariam o fim de nossas férias. Viajaríamos durante toda a noite, e pensamos em alguns tira-gostos para a eventualidade de sermos surpreendidos pela fome durante o percurso, e sobretudo porque já aprendi, há muito, que mar dá fome. Não jantamos em Canasvieiras. Decidimos por um lanche rápido na rodoviária mesmo, já que o ótimo Mercado Público de Florianópolis fechava mais cedo aos sábados. Não foi uma boa decisão.

Há três opções de lojas que servem refeições na rodoviária de Florianópolis. Todas cobram preços abusivos por produtos simples, como se fossem restaurantes de beira de estrada. Uma coxinha frita de frango, por exemplo, custa o equivalente, ou mais, a uma porção de camarões no centro da cidade. Sei que é costume dos estabelecimentos de rodoviária estipularem 400%, 500% ou 600% de lucro sobre seus produtos em relações a lojas em outros lugares, mas não entendo o porquê e, principalmente, não concordo. Pior: acho burrice. Observei que a maior parte dos consumidores opta por sorverem o que talvez seja a coisa mais barata em oferta: um cafezinho. Fiquei imaginando o tempo que leva para um estoque de chocolates, por exemplo, ser arrematado em sua totalidade. Será que é lucrativa, então, essa prática incompreensível de preços nas rodoviárias? Mais: não lembro de em Porto Alegre cobrarem tanto quanto em Floripa. Lá é possível encontrar os mesmos produtos e pagar por eles preços bem mais em conta, às vezes comparáveis aos de supermercados generosos, como os da rede americana Wal-Mart.

Acho que a fiscalização de preços em Florianópolis em estabelecimentos comerciais que oferecem produtos primários é a pior que já vi. Também em redes de supermercados é possível detectar diferenças grosseiras entre preços de produtos. Recomendo aos que lá forem optar pelas grandes redes e fugir dos pequenos mercados, se não quiserem gastar bem mais.

Acabamos adquirindo, na rodoviária de Floripa, uma barra de chocolate Nestlé, ao preço ofensivo de quase sete reais. Inacreditável superinflação. Em um bom supermercado, é possível encontrar o mesmo chocolate por menos de quatro reais. Uma diferença zombeteira. Duvido que existe algum tipo de regulamentação ou fiscalização de preços nesses lugares, mas seria ótimo que existisse. Aposto que o lucro dessas lojas subiria.

No mais, uma ironia. Na rodoviária da capital de Santa Catarina existe uma unidade da conhecida rede de lanchonetes americana Bob's, restrita à venda de sorvetes e milk-shakes. Sabe-se que seus preços não são muito generosos, levando-se em conta a qualidade do produto. Apesar disso, fazem enorme sucesso. Pois o sucesso que fazem nessa rodoviária impressiona. Depois de um rápido e calculado lanche, fui àquela unidade, pensando em comprar um milk-shake e enganar nossa fome. Fiquei surpreso ao ser informado que o produto tinha acabado a poucos instantes, em função da enorme procura. Dei uma olhada na tabela de preços e entendi a razão de atrair tantos consumidores: uma unidade média de milk-shake, com 500ml, custava cinco reais, dois a menos que a barra de chocolates, cujo peso não chega a 50% do produto oferecido pelo Bob's. Pois descobri que, na rodoviária de Floripa, vale mais a pena se empaturrar de porcaria do Bob's do que fazer uma refeição em algum estabelecimento lá dentro ou passar em uma loja para adquirir lanchinho de viagem.

Um comentário:

  1. Grande economista... hehehehe...
    Que epopeia, hem! Que bom que ficaram longe dos famosos pasteis de beira de estrada – principalmente os de rodoviárias... Dizem que são radioativos e transforma quem os come em mutante!!!
    Um abração e saudades!!!

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