domingo, 29 de maio de 2011

CATARSE A LA BOHÈME**

  Hoje ao ouvir um pequeno fragmento da ópera, La Bohème, de Puccini, senti certa tristeza sob o espírito incorporado pela Soprano Victoria de Los Ángeles ao emprestar sua voz à protagonista, Mimi.  
  Implorando entendimento sobre o motivo que levou o poeta Rodolfo a puni-la com o afastamento, a florista – essa era a ocupação da moça – encontrou-se absorta e inconsolável por não ser capaz de entender que, de seu jeito, ele a protegia, pois, doente como estava (tinha tuberculose), já não podia acompanhá-lo em sua vida boêmia. A preocupação em preservar a saúde da amada levou Rodolfo a inventar várias desculpas com o fim de mantê-la afastada de ambientes insalubres e poupá-la dos ares perigosos da rua onde, na maior parte do tempo, encontrava-se o poeta. Por fim, todo o desgaste acabou se mostrando inútil, pois, fechando a tragédia, a moça acaba finalmente por sucumbir à morte, levando Rodolfo a um profundo estado de sofrimento. 
  Fruto do amálgama entre música, teatro e literatura, uma boa Ópera sabe muito bem extrair o que há de melhor em aspectos que, geralmente, exploram as tragédias da condição que nos faz humanos.
  Contudo, a esta altura do texto, algum leitor mais desavisado pode pensar que estranhamente cultivo algum sentimento sádico ou pouco ortodoxo no que se refere aos padrões “normais de comportamento e de prazer”. Talvez pensem, ainda, não ser justo sofrermos enquanto relaxamos com as melodias e vozes que vão tecendo todos os movimentos de uma boa composição operística. Entretanto, pelo contrário, – e isso é só uma entre milhares de opiniões – crescemos muito com esses olhares e ouvidos doados a nós pela “arte da dor”, pois é um bom veículo para sentirmos que ainda estamos vivos e não embrutecemos como as pedras frias que carregamos para construir nossos muros de ‘redor-vida’.
  Vistos os elementos, purifiquemo-nos sob as catarses provocadas pelas tragédias arquitetadas por nosso italianíssimo Puccini e, enfim, sintamo-nos humanos novamente!
  Bravíssimo!!!  

** Ofereço essa pequena reflexão a minha amiga Aninha Martins. Feliz aniversário, querida! Abraço!!!

Um comentário:

  1. Sou amiga do Dilso, gostei muito do blog, já havia lido este texto, no que reproduzo o comentário:

    Que texto maravilhoso!
    Lembrou-me a frase de Oscar Wilde, (sempre Wilde!), em sua epístola In Carcere et Vinculis:"Talvez eu tenha sido escolhido para ensinar-lhe algo bem mais valioso, o significado do sofrimento e toda sua beleza".

    Estou seguindo o blog! Convido a conhecerem o meu:

    Humoremconto
    http://anaceciliaromeu.blogspot.com

    ResponderExcluir