terça-feira, 23 de agosto de 2011

Terrence Malick

Em função de compromissos paralelos, eu e a Aninha tivemos que adiar a ida à sessão de A árvore da vida (The tree of life, 2011), o novo filme do cineasta norte-americano Terrence Malick, que ganhou, este ano, a Palma de Ouro em Cannes. Agendamos inadiavelmente o próximo sábado para assistir ao longa. Espero, depois disso, ter tempo para resenhar o filme. Tão logo termine, transformo em postagem neste espaço.

Dias atrás, uma amiga, a Rô Candeloro, que já comentou o longa em seu blog, disse que a fila de espectadores interessados na produção era surpreendentemente longa. Inclusive, a sala de cinema ficou lotada. Curioso fato. Terrence Malick não é um cineasta que atrai grandes públicos. Aliás, não lembro de nenhum filme seu que tenha sido sucesso comercial. Suspeitamos que a massa tenha se interessado por Brad Pitt, ou talvez por algum alarido ressoado através das mídias. Os comentários sobre o longa dividem-se entre a veemência dos que gostaram e a decepção dos que bocejaram ou esperavam mais. Mas, afinal, você costuma ir a uma sessão de Terrence Malick esperando alguma coisa? Surpreendeu, também, as quase duas páginas que a Zero Hora dedicou, no último fim de semana, ao filme. Isso não acontece sempre com obras produzidas em circuitos independentes, tenha sido ela ganhadora do prêmio que for. Intuo algumas razões para esse sucesso inesperado e talvez confirme-as daqui a alguns dias.

Mas quem é este sujeito chamado Terrence Malick? De repente, o cineasta, sempre recluso, sempre discreto, tornou-se centro de atenções, mas pouco é dito sobre sua figura, especialmente aqui no Brasil. Comparo Malick aos escritores brasileiros Milton Hatoum e Raduan Nassar. Hatoum tem poucas publicações até aqui, e todas foram premiadas e aclamadas; todas ótimas. Nassar é ainda menos assíduo, com apenas três obras publicadas. Não sabemos se ainda virá novo livro. Entretanto, os que conhecemos foram premiados e aclamados, merecidamente. Malick dirigiu e apresentou cinco longas em cerca de 40 anos. Todos foram premiados e aclamados. São grandes experiências de cinema. Façamos um levantamento. Seu primeiro trabalho, Terra de ninguém (Badlands, 1973), ganhou a Concha de Ouro no Festival de San Sebastián, na Espanha, e é, até hoje, um dos grandes filmes produzidos pelo cinema americano. Em seguida, Cinzas no paraíso (Days of heaven, 1978) conquistou o prêmio de Melhor Diretor, em Cannes, e por pouco não arrematou também a Palma de Ouro. Vinte anos mais tarde, Além da linha vermelha (The thin red line, 1998) conquistou o Urso de Ouro, em Berlim. O novo mundo (The new world, 2005) foi mais discreto nas premiações, mas nem por isso menos aclamado. O mais recente, A árvore da vida, levou a Palma de Ouro. Não duvido que as prateleiras do cineasta já estejam ficando pequenas para acolher tantas estatuetas. Surpreendentemente, Malick já concluiu as filmagens de uma nova produção, ainda sem título, com Ben Affleck, Rachel McAdams, Jessica Chastain, Rachel Weisz e Javier Bardem. Quando estreará nem Deus deve saber. Em geral, Malick edita seus trabalhos durante dois ou quatro anos, portanto não espere para amanhã. Ainda, Malick finaliza um tipo de documentário sobre A árvore da vida, intitulado Voyage of time, e já anunciou que voltará a trabalhar, talvez em 2012, com Christian Bale, num novo longa metragem, possivelmente já escrito. Isso se o mundo não terminar, claro. De repente, Malick incorpora o fôlego de Clint Eastwood e decide dedicar-se ininterruptamente ao cinema. Fato novo em sua carreira.











Terrence Malick completará 69 anos em novembro deste ano. Nasceu em 1943, em Illinois, e vive hoje no Texas, estado de sua preferência. Formou-se com louvor máximo em Filosofia na Universidade de Harvard, em 1965. Deu continuidade em Oxford, mas não concluiu o doutorado. Aparentemente, especializou-se nas obras de Martin Heidegger. A razão da desistência acadêmica pode ter sido o cinema, mas como o filósofo tornou-se cineasta mantém-se em malickiana reticência. Sabemos apenas que em 1969 dirigiu e roteirizou seu primeiro trabalho, um curta, Os moinhos de Lanton (Lanton mills), que o incentivou a seguir carreira depois de ter sido reconhecido e premiado pela American Film Associate. Nos anos de 71 e 72 foi roteirista e/ou revisor de roteiros contratado. Em seguida, apresentou à Paramount um roteiro que o estúdio considerou inapropriado, Deadhead miles, que em 73 seria transformado em Terra de ninguém. Malick concluiu que a única maneira de torná-lo filme era se ele próprio fosse o diretor, de maneira independente. Assim fez. Surgia, então, o cineasta Terrence Malick. Cinco anos mais tarde, a Paramount, depois que a Warner Bros. tinha comprado os direitos de distribuição de Terra de ninguém por valor incomum, decidiu desbancar a rival e financiar Cinzas no paraíso, um filme brilhante, com excepcional direção de fotografia de Nestor Almendros. Em seguida, Malick começou a escrever Q, sobre a origem da vida, um prenúncio de seu mais recente trabalho, reescrito durante as décadas seguintes. Por alguma razão, Malick abandonou Q em pré-produção, mudou-se para Paris e desapareceu. Na verdade, desapareceu entre aspas. O cineasta continuou escrevendo, e muito, e possivelmente foi professor de filosofia na capital francesa. Nos anos 90, voltou aos Estados Unidos, casou-se pela terceira vez e anunciou um terceiro trabalho: Além da linha vermelha. Foi convidado por Steven Soderbergh para dirigir e escrever um filme sobre Ernesto Guevara, em função de um artigo elaborado nos anos 60. Aceitou, mas atrasos no complicado financiamento o levaram ao projeto O novo mundo, germinado desde os anos 70. Soderbergh dirigiu Che, que deu o prêmio de Melhor Ator, em Cannes, para Benicio del Toro, e Malick entregou O novo mundo, um filme belíssimo, que parte da crítica parece ter mal assistido. Depois disso, Malick não parou mais. Tudo indica que não irá parar por enquanto, embora o intervalo de no mínimo cinco anos entre suas produções sinalize que um próximo longa não deverá chegar antes de 2016.

Já deu para perceber que Terrence Malick está entre os cineastas de minha preferência. Malick não é um diretor comercial. Pelo contrário. Também não é unânime, sobretudo porque seu cinema solicita uma disposição de espírito que, em meio às atribulações atuais da vida, nem todos podem oferecer. Por essa razão, talvez, seus filmes, conforme já ouvi ou li, provocam sono. Em mim, despertam.  De qualquer forma, saber que nunca falta quem dê dinheiro para o diretor tocar seus projetos significa que há, mesmo no circuito americano, muita gente interessada em produzir filmes mais voltados à força da arte que à força da grana. Malick, e tantos outros diretores, sempre vão depender de mecenas, aristocratas ou produtores independentes.

Falarei sobre o cinema de Malick em outras postagens.



8 comentários:

  1. Dilso, ótima matéria sobre o gênio cineasta Terrence Malick!
    Está bastante informativa e bem argumentada.
    É uma verdadeira biografia pela abundância de dado sobre o cineasta.

    Fabiano, você escreve muito bem!

    Parabéns pelo texto e pela genial parceria!

    Fortes abraços para os dois!

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  2. Muito bom, Fabiano! Vou te enviar um torpedo no sábado à tardinha e ficar aguardando o teu comentário no blog. Encontrei na Cultura uma caixa com dois bloquinhos e um tipo de carimbo, Ex-Libros, bem ao estilo que a Aninha pretendia fazer. Aliás, ela disse que providenciaria um carimbo para mim também, mas não tive mais notícias da empreitada. Envies meu abraço à Livraria Cultura. Abração!

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  3. Ops, "envia" o meu abraço. Sorry! A tempo...

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  4. Rô, fiz algumas revisões no texto.
    Pesquisando, fiquei contente ao descobrir que Malick é "colega" teu!
    Quanto ao carimbo, continue aguardando. Pode acreditar que vai valer a espera.
    Mandarei lembranças para a Cultura, hehehe. Que coisa irresistível é um lugar como esse.
    Abraço!

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  5. Rô, os compromissos de trabalho estão me consumindo, mas nossos carimbos estão a caminho...beijos, saudade!

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  6. Infelizmente, ainda não conheço a obra deste genal diretor.
    Vou procurar saber mais sobre ele.
    Valeu.

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  7. Fabiano, estou aguardando o teu comentário sobre o filme, querido! Um grande abraço para ti e Aninha!

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  8. Hoje já é segunda à noite e o teu comentário não rolou ainda... Vai, Fabiano, faz uma forcinha! Abraços!

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