domingo, 25 de setembro de 2011

Roger Waters e o Terrorismo: 3 músicas

Muitos sabem que Roger Waters (baixista e ex-líder do Pink Floyd) escreveu várias letras antiguerra. Inclusive o álbum The Final Cut — um quase solo de Waters, mas que no final foi lançado pelo Pink Floyd mesmo — foi totalmente dedicado ao tema. Mas neste post tentarei focar as músicas do Roger Waters mais diretamente ligadas, de alguma forma, ao terrorismo.

Roger Waters escreveu algumas músicas para a trilha sonora do filme When the wind blows, de 1986, cujo título é uma referência ao vento destruidor de uma explosão nuclear, tema central do filme.

Na música Towers of Faith, a letra enfatiza de maneira sutil a guerra ideológica entre o ocidente e o oriente. De imagens como as das Colinas de Golã — área atualmente ocupada por Israel, mas reconhecida internacionalmente por pertencer a Síria —, as do mar da Galiléia e as do Papa João Paulo II e suas particularidades, a música salta para referências ao Central Park, World Trade Center e Nova Iorque. Minha interpretação do título da música é uma referência ao World Trade Center como sendo as torres de fé da sociedade norte-americana, o que fica mais evidenciado pelo trecho abaixo da letra.

"The business man in his Mohair suit / In the World Trade Center/ Puffs on his cheroot/ And he says /I dont care who owns the desert sands/ My brief/ Is with the hydro-carbons underneath".


"O executivo em seu terno de Mohair/ No World Trade Center/ Exala a fumaça do seu charuto1/ E diz/ Não me importa quem possui as areias do deserto/ Minha responsabilidade/ É com os hidrocarbonetos (petróleo) embaixo".

Hoje este trecho tornou-se uma ironia histórica, pois, mais do que nunca, o povo (ou ao menos alguns executivos e políticos) dos Estados Unidos se importa, em um sentido ou outro, com quem é dono das areias do deserto.


A música final desta trilha sonora é Folded Flags. O título é uma referência à tradição de entregar uma bandeira nacional dobrada para os pais ou familiares de um soldado morto, e é nesse sentido que a letra da música segue. Com uma bela canção de ninar, a música inicia citando um bebê, cujo berço irá balançar quando o vento soprar (when the wind blows), para em seguida satirizar o então presidente e ex-ator Ronald Reagan ('Our lives in the hands of a second-rate actor'). A parte mais emblemática trata da impossibilidade de realmente corrigir acontecimentos: você pode provar que estava certo, mas suas crianças continuarão mortas; você pode vingar-se, mas continuará sentindo-se mal - coisas que toda guerra carrega consigo.

"Hey Joe, where you goin'
With that dogma in your head?
You can prove your point
But your kids will still be dead
...
Hey Joe, where you going
With that gun in your hand
You can take your revenge
But you'll still feel bad"

Por fim, destaco uma música do álbum solo de 1992, Amused to death, considerado por muitos a parte final de uma trilogia composta por Dark side of the moon, The Wall e Amused to death (este álbum contou com Jeff Beck nas guitarras, Flea no baixo e backing vocals fantásticas). Em linhas gerais, a música The Bravery Of Being Out Of Range fala da bravura dos Estados Unidos ao lutarem uma guerra estando fora do alcance inimigo: "Adoro estas bombas guiadas a laser, elas são realmente boas para corrigir coisas erradas. Você acerta o alvo e vence o jogo a partir de bares a mais de 3000 milhas de distância", diz a letra, em certo ponto. E, tão interessante quanto triste, temos uma nova versão da bravura norte-americana ao estar fora de alcance: a guerra ao terror feita por aviões teleguiados, como ilustrado na reportagem abaixo, do Jornal da Globo, em que inimigos, culpados ou inocentes - não cabe aqui o julgamento -, são mortos sem nenhum direito a julgamento. A reportagem inicia aos 1'42'', se você não quiser escutar a introdução do William Waack.





1 - Tradução levemente imprecisa, pois não sei a palavra em português para o verbo puff (se algum fumante quiser contribuir).

2 comentários:

  1. Gostei bastante, Josué.

    Abração. Saudades.

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  2. Grande Felten !! Muito obrigado. É verdade, temos que marcar algo uma hora, mas no ritmo de trabalho que ando acho que só lá pelo final do ano, sempre há muito que conversar ! :D

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