sábado, 1 de outubro de 2011

OS SABORES DA CULTURA


  Como podemos pensar em nos deleitar com a vida se nem ao menos conseguimos saborear os verdadeiros temperos das sutilezas culturais da alma humana? O sensabor movimento do pegar o garfo e levar à boca só se confirma quando o elemento contido nesse mesmo talher chegar definitivamente ao nosso paladar. E se tal iguaria não tiver gosto? Certamente todos os atos ritualísticos de alimentar-se estarão rendidos ao um simples mecanicismo. A barriga - claro! - se encherá, mas o doce e infinito ato de degustar estará comprometido. Estou falando de algo muito sério, divago sobre uma verdade tão vital e necessária quanto à própria respiração: a diversidade colorida de um prato nutritivo e multi-saboroso do espírito ‘temperado’ do homem.
  Tudo o que podemos fazer é não lotar simplesmente nossos pratos com desenxabidas comidas cozidas com ingredientes que escapam a nossos aparelhos gustativos. Não podemos comer com o fim único de engordar, devemos sim, se o alimento estiver sem sabor, colher os temperos em uma horta bem cultivada e acrescentar tudo a gosto. Devagar é que devemos mastigar e sentir todas as sutilezas, aproveitando, garfo a garfo, todos os seus sabores.
  O insípido (tudo o que não tem sabor) se caracteriza, pelo menos na presente leitura, em uma realidade crua, sem graça, facilitada e desprovida de novidades. Se observarmos alguns caracteres típicos da cultura afro-brasileira, como exemplo do que tem sabor, perceberemos uma forte terra (a África) que sustenta um poderoso tronco onde se espalha uma copa que dá/deu sombra, comida (que são os frutos) e refúgio a muitos viajantes cansados (ex-escravos e seus descendentes). Como essa grande árvore está sedimentada em um solo fértil, inevitavelmente, os homens que saborearam de seus frutos cresceram e fortaleceram-se com eles, formando assim as bases do que conhecemos hoje como cultura afro-brasileira.
  Bom apetite!

2 comentários:

  1. Queria comentar há mais tempo isto.. mas agora vai... legal que este teu post tem tudo a ver com o conceito de terroir do vinho. Onde um determinado vinho traz a expressão da terra onde ele nasce, sendo assim um vinho único (desde que os uso intensivo de leveduras selecionadas, estabilizantes, etc. não retirem o terroir do vinho tornando-o algo padrão como no caso de quem deseja simplesmente imitar os vinhos do Velho Mundo). :)

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