quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Como era $azul$ aquele vale

O deslimite da politicagem infame no Brasil não é de ontem, não vai terminar amanhã e, em algum lugar do país, certamente está sendo praticada neste momento - uma prática que se divide em imediato, curto e longo prazo. Não tenho dúvida nenhuma a respeito disso. Insiste-se, porém, em um discurso incompreensível: "cada vez mais está ficando claro que entre 10 políticos, 11 vinculam-se a alguma corrupção ou podem, se quiserem, facilmente vincular-se". Repito: é incompreensível. Cada vez mais estamos nos dando conta disso? Como assim? "Cada vez mais" é de uma imbecilidade discursiva até atroz. "Cada vez mais" já passou, senhoras e senhores. Menos equivocado seria se dissessem: "cada vez mais somos estúpidos". O sistema brasileiro do poder político e econômico está todo corrompido ou é facilmente corrompível. "Cada vez mais" é de um eufemismo emburrecedor. O mais atroz não é se dar conta de que quem discursa como se fôssemos uma bando de gente que devagarzinho estivesse abrindo os olhos após um longo período letárgico é cidadão de barriga cheia, mas que quem está com a barriga cada vez mais vazia vai minguar pacificamente até a morte. A letargia não terminou, e o "cada vez mais" nos acompanha desde os tempos do Cabral. Eu decidi, após as últimas eleições, nunca mais votar. "Essa atitude não será empecilho e não irá desarmar a lona de circo algum", alguém poderá dizer. Se nem a existência de prisões, cassações e processos judiciais é, imagine eu. Mas será meu protesto íntimo e vitalício de encontro à infâmia. Pelo menos para mim mesmo eu sempre poderei dizer que, em percebendo a palhaçada de mau gosto, não continuei simpático, maquinalmente bocejando algum sorrisinho diante do picadeiro, na esperança de o próximo número ser menos estúpido. Direi: "fui".

Recentemente li ou ouvi comentários de um cientista político compromissado com imagem pública polida. Disse ele que o problema está em os políticos transformarem poder público em poder privado. Perfeito. E agora? O que será feito? Melhor: será feito alguma coisa? O quê? Eu, não sei. Ainda bem que o Brasil é um país enorme, com possibilidades. Já pensou se fôssemos do tamanho de uma Noruega, por exemplo? Ou você adere ou você é aderido. Ou... Deixemos o Sr. Lupi dar a resposta.

Quero terminar com a manifestação do ministro Carlos Lupi (PDT), o sétimo do governo Dilma Rouseff a ser envolvido em corrupção. Nem é preciso mencionar o quão mal-educado foi o cidadão, com sua verborragia de bêbado indignado. Disse ele que ninguém poderá tirá-lo do cargo, e que, se isso acontecesse, levaria, até antes, muitos consigo em caixões. Pergunto: e se o povo quisesse tirá-lo, colocaria todos nós emparelhados diante de um muro e abriria fogo? Parece que sim. Taí a resposta: se o país não fosse tão grande e, por isso, você tivesse que aderir à sacanagem ou aceitar ser aderido, você com certeza iria para o muro - que talvez fosse até pior que o do Ahmadinejad. Fico aliviado em saber que nunca mais darei voto a nazistas assim que, durante as campanhas, nos entorpecem com retórica antiga - aquela mesma que Platão, há tanto tempo atrás, abominava. Há muitos que não são assim? Não sei se muitos, mas concordo que deve existir político com escrúpulo irretocável, exemplar até. Mas a hora é de, pelo menos, querer mudar. Ficar lambendo a meia dúzia de franciscanos que há em meio à turba de leões e harpias é atitude frívola - do jeito que brasileiro gosta. Tão logo seja possível, os bons samaritanos serão servidos no banquete dos imorais - e seus eleitores vão sair junto no banheiro depois, como já deixou claro sujeitos como o Coronel Sérgio Moraes. Os imorais são maioria absoluta. São eles que escolhem o cardápio.

Por fim, eu já sabia, mas agora todos estão vendo, claro como o dia, que os dois governos de Lula estiveram entupidos até o pescoço de sem-vergonhas, canastrões, ladrões e fabricantes de cuecas Tabajara. Pobre Dilma, que herdou o chiqueiro e, em nome do partidarismo, manteve a corja. Pouco a pouco, todavia, ela consegue mudar e colocar nos ministérios quem ela quer, sem lulismo, sem paz e amor. Resta torcer para que seu sucessor não desemboque tanto lagarto. Mas, como disse Ulisses Guimarães, e eu já disse isso aqui, "vai ficar pior". Esperem para ver, nas próximas eleições, um bando de Tiriricas, Mulheres-Fruta, Danrleis, Romários, Malufs, Collors e adjacentes-quocientes fazendo de todo o plenário uma escolinha do professor Raimundo. Isso sendo o mais otimista possível, porque pode ser muito, mas muito pior (Copa, Olimpíadas e Pré-Sal estão aí). Tenho certeza que o vale continuará, até o tempo dos tataranetos dos meus tataranetos, quem sabe, tão azul quanto uma arena forrada até o gargalo com notas de cem.





Um comentário:

  1. Talvez uma boa frase fosse: "Não sei se muitos, mas concordo que deve existir ser humano com escrúpulo irretocável, exemplar até". A humanidade, grande parte dela ao menos, já superou o poder intocável dos reis que legislavam em nome de Deus, derrubou ditaduras (e ainda derruba vide a Primavera Árabe), em termos políticos o Brasil não sofre de palhaçadas como a Grécia e Itália estão sofrendo, então sou otimista. Se Ulisses, disse "vai ficar pior" eu respondo "pode ser, mas também vai melhorar" ou alguém diria que tudo está pior agora em comparação com a época que Ulisses emitiu esta frase ?

    Sobre votar ou não, escrever ou não, o fato é: não pare. :)

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