quinta-feira, 29 de março de 2012

A magnética (1)

"A magnética" trará como tema coisas do futebol. Vou tentar não puxar nenhum assado para o lado do meu clube, o Internacional, de Porto Alegre. Acerca do Colorado estou pensando em criar algo exclusivo, porque assim fica mais para interessados mesmo. Mas por enquanto é só ideia.

Imagino que todos saibam que fui, no passado, um promissor jogador de futebol. Tive uma breve carreira nas várzeas e campinhos da pequena cidade gaúcha de Venâncio Aires. Os mais chegados, que não conheceram essa faceta, fingem acreditar. Tudo bem. Às vezes nem eu acredito que um dia fui um bom prospecto (era zagueiro pela esquerda, veloz como o vento). Se não tivesse abandonado os campinhos, quem sabe se hoje eu não poderia ser capitão da seleção brasileira? Ainda mais porque o Mano é meu conterrâneo! Que chance que tive de poder ganhar muito dinheiro sem me preocupar se estou falando um monte de bobagens...


 QUE BELEZA, MANO

É sobre meu conterrâneo que começo. Ao ser parado em uma blitz da Lei Seca, no Rio de Janeiro, Mano Menezes recusou-se a fazer o teste do bafômetro. Grave, porém, foi quando o policial solicitou o documento de habilitação e Mano alcançou o cartão de crédito. Brincadeira. O fato é que o atual técnico da nossa seleção foi autuado em quase mil reais e teve sete pontos subtraídos da carteira! É, meus caros, ele pode. Se eu pegar o carro agora, sem carteira, depois de ter tomado uns tragos, e for parado em uma blitz, o que acontecerá comigo será bem pior que uma multa e alguns pontinhos. Depois dizem, em estatística até, que a aplicação de leis no Brasil é muito boa. Claro que é. Afinal, as multas, suspensões e prisões aplicadas aos pé-rapados jogam esses números lá em cima, permitindo, então, que barões, estrelas e adjacências não sejam importunados. Quem se aproveitou do ocorrido com fina ironia foi a sogra do Kaká. Como o jogador, que está em boa fase no Real Madrid, não foi convocado, ela tascou no Twitter: "Será que ele estava sóbrio quando não chamou Kaká?". Uma pergunta conveniente.


 QUARTETO AFINADO

O Barcelona é hoje o grande clube de futebol (uma seleção de melhores do mundo, na verdade) em virtude da afinação singular entre quatro jogadores craques da triangulação: Messi, Xavi, Iniesta e Daniel Alves. Com esses quatro em campo, em circunstâncias normais, o Barcelona é o time mais ofensivo do mundo. Derrotá-lo é façanha antinatural. Impressionante a evolução ofensiva das jogadas quando esses quatro jogadores triangulam. Destaque para Messi. O argentino enche os olhos de quem o vê jogar. É disparado o melhor destes tempos. Agora, compará-lo a Pelé é algo inviável, em todos os sentidos. Aos 24 anos, idade que Messi tem hoje, Pelé já era, há muito, uma lenda viva. Para que a comparação tenha sentido é preciso que Messi chegue aos 30 anos tendo feito praticamente o dobro do que fez até aqui. Se fazendo o que tem feito Messi já é o jogador mais poderoso do planeta, imaginem o que aconteceria se, a partir de agora, ele fosse ainda melhor (o dobro). Mas que Messi já pode ser considerado melhor que Maradona isso sim acho pertinente.


CASO OSCAR

Como torcedor do Internacional, lamento dizer, mas o São Paulo tem razão. Aliás, é preciso que o São Paulo seja o vencedor. Explico. Oscar, ou melhor, o advogado de Oscar, em 2009, entrou na justiça com um pedido de rescisão de contrato cheio de segundas intenções. Parece que a ideia fundamental era fazer com que o jogador embolsasse os ganhos econômicos independentemente. Ficasse rico, em outras palavras, visto que era um excelente prospecto. Com isso, empresário e advogado ganhavam também, sem precisar passar pelo chato do São Paulo. Logo o clube paulista entrou naturalmente na justiça, solicitando revogação da decisão, e, assim, criou um litígio. O São Paulo alegou que a rescisão não tinha fundamento, ainda mais porque o jogador assinara um contrato com o clube. Mesmo assim, a justiça deu momentaneamente ganho de causa para Oscar, e o jogador foi parar no Internacional, que o abraçou, mesmo sabendo do imbróglio. Um risco. Risco maior foi quando o Internacional pagou cerca de 7 milhões de reais por metade dos direitos econômicos de Oscar. Agora, o São Paulo conseguiu invalidar a decisão e revalidar o contrato de Oscar, resolvendo a seu favor o litígio (e isso o Internacional sabia que provavelmente aconteceria). De fato, o São Paulo tem esse direito. Oscar saiu de lá daquele jeito porque talvez caiu na conversa gananciosa de seus advogados. O Internacional comprou um risco e agora viu sua aposta naufragar. O São Paulo não pode ser derrotado nesse caso porque isso criaria uma jurisprudência muito desagradável. Veríamos muitos outros casos de jovens promessas rescindindo seus contratos na justiça e abandonando seus clubes formadores. Já imaginaram Neymar rescindindo com o Santos quando jogava na base?

A maneira mais justa que vejo de resolver a questão é a seguinte: sentarem-se, perante um juiz, o jogador, o Internacional e o São Paulo. Em seguida, perguntar ao jogador onde ele deseja jogar. Se Oscar respondesse "Internacional", o São Paulo deveria ser economicamente recompensado (que fique claro, pelo próprio jogador). Se Oscar decidisse pelo São Paulo, o Internacional deveria ser recompensado, com os valores saindo do bolso do jogador. Se ele decidisse por outro clube, ambos deveriam ser recompensados. É isso. Não é tão complicado quanto parece. Mas, de qualquer forma, o São Paulo tem o direito. O que os advogados de Oscar estão tentando - e o Internacional também, o que não deveria acontecer - é explorar possíveis buracos na legislação e desenvolver argumentos que consigam dar um jeitinho na questão. Mas o São Paulo está certo.


 É isso. Abraço, amigos.


3 comentários:

  1. Finalmente um comentario "não torcedor" do caso Oscar, tenho visto absurdos de ambas as partes nos ultimos dias.
    Parabens pelo artigo...

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  2. Obrigado pela participação. Venha sempre!

    O caso Oscar vai definir rumos para a relação contratual e trabalhista entre clubes e jovens jogadores daqui em diante. E espero sinceramente que Oscar não vença a questão. Se isso acontecer, pode ter certeza que casos assim vão se tornar frequentes.

    Entretanto, duvido muito que o caso seja decidido a favor de Oscar. Isso não significa que ele não poderá ser jogador do Internacional. Significa apenas que ele terá que ressarcir o São Paulo, porque é justo e é direito do clube paulista. Parece que estão pedindo 15 milhões de reais (valores corrigidos). É isso então. Pague e fique livre. Se o Internacional quiser, pode participar do pagamento. Provavelmente participará, se tiver o dinheiro. Seja o que for, o Internacional sabia da pendenga quando trouxe o Oscar e não tem do que se queixar.

    Acho que a única coisa que o advogado do Oscar poderia tentar é reduzir o valor da rescisão. Mas o São Paulo está tão indignado (e com razão) que duvido que aceitaria. E se o Oscar não pagar? O São Paulo o venderá na próxima janela e ponto final.

    Abraço.

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  3. Eu faço parte dos que, quando tu falavas que era jogador, não acreditava muito, pois não consigo te imaginar jogando bola. Agora lendo esse relato, passo a acreditar. Muito bom!
    Abraço!

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