terça-feira, 8 de julho de 2014

Brasil 1, Alemanha 7.


Brasil 1, Alemanha 7. Não é difícil achar parâmetros em que a Alemanha enfie 7 a 1 no Brasil, isto é simples, peguemos Prêmios Nobel onde temos um quase infinito à zero (por mais que o Nobel nem sempre seja um parâmetro digno (vide Einstein não ganhar pela relatividade, os Russos da literatura não ganharem por causa do comunismo e Cesar Lattes não ganhar, pois o padrão é dar para o "líder" da coisa (caso do méson pi, para os desavisados))).

 Enfim, o que mais entristece nesta derrota de proporções épicas é fato desta derrota ser uma pequena representação daquilo que é a base para nossa não tão forte clava: nossa fanfarronice. Nossa fanfarronice consegue espraiar-se por tudo de maneira genial (e isto é ruim, como sabemos).

Peguemos o caso deste instantâneo, o futebol. Analisando, a Alemanha tem um população menor que o Brasil. A priori, tem muito menos pessoas tentando ser grandes jogadores de futebol, então o que aconteceu ? Ora meus amigos, o que aconteceu é mais um exemplo de nossa fanfarronice.

Para terem idéia, em minha época de adolescente, era preciso ter um "esquema" para que tu conseguisse treinar na base do Guarani de Venâncio Aires - RS, por melhor que tu sejas. Imaginemos a grandiosidade de esquemas para virar um grande craque na seleção brasileira ! A seleção de 2010 é um exemplo sem craque, a deste ano é um exemplo dos craques em potencial que por N recusas hoje são motoboys, office boys, lixeiros, etc. A idéia deste parágrafo não é diminuir estas profissões, dignas e vitais como todas, mas sim ressaltar que a maneira como nossa sociedade é estruturada não favorece o surgimento de Neymars, ela é voltada para matar Neymars: "Sem empresário forte, sem posição em time da séria A, meu guri". A sociedade alemã, favorece um pouco mais e este pouco mais esta aí para todo o mundo ver e ecoar durante décadas através do resultado de hoje. Infelizmente, nossa sociedade força com que neymars sejam exceções.

Não é uma loucura dizer tenha nas vilas de Porto Alegre tenhamos uns 5 Neymars em potencial. E nas favelas do Rio de Janeiro, 10, 15, 20 ? O fato é: quantos destes neymars serão Neymars ?

Enfim, é triste demais perder naquilo em que temos tudo para sermos os melhores. Que possamos batalhar nesta e em outra áreas para que não mais cuspamos em nosso tapete de boas vindas.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Notas sobre a El Efecto no Prêmio da Música Brasileira

Já dizia o poeta que “glittering prizes and endless compromises shatter the illusion of integrity”1, mas reconhecimento sempre é importante. Na noite do dia 12 de Junho de 2013, a El Efecto veio a não ganhar o prêmio de Melhor Grupo na Categoria Pop/Rock/Reggae/Hiphop/Funk, mas o fato é que a simples indicação deles junto com Titãs e Nação Zumbi é mais uma confirmação de que a revolução não será televisionada (que assim seja, que assim se faça).

O CD Pedras e Sonhos é fantástico. Algo para os adolescentes na década de 2050 escutarem e dizerem ‘Nossa ! Esses cara são foda’, como alguns adolescentes hoje em dia fazem para as bandas do anos 70. Em uma comparação com o capitalismo, o mainstream das artes ainda é muito rico, mas já apresenta sinais da idade, será que já estamos em direção a um sistema de transição como argumenta Immanuel Wallerstein pelo fato dos limites da especulação e os limites das fabricação de grandes sucessos de vendas ?

Tanto o capitalismo quanto os donos do mainstream (leia-se gravadoras, etc) tem muita gordura para queimar, mas a indicação de uma banda independente cujos músicos não se dedicam exclusivamente à música para um prêmio tão importante como este significa muito. Significa muito não só para a Música, mas para todo o sistema. Só terão destaque aqueles que fizerem uma leitura correta do seu tempo ? Notem que os outros dois indicados não foram com trabalhos inéditos e sim trabalhos ao vivo. Haverá no futuro espaço para engodos comerciais ? Acredito que sim, mas talvez não tentarão nos empurrar goela a baixo tão brutalmente, pois algum programa de inteligência artificial nem vai nos sugerir (acho que o Last.fm já usa isto), ou simplesmente vamos estar plugados via audio streaming do celular em nossa rádio online favorita (a demorar um pouco mais, considerando o preço/qualidade/disponibilidade do 3G para os celulares).

Enfim, os caras da El Efecto devem saber muito bem que duas coisas bem distintas são o prêmio e o merecimento e o fato de estarem lá só mostrou a todos que os acompanham que existem muitos frutos a serem desfrutados no caminho desta banda. O fim ? Este já não preocupa mais.


1 - Notas: O Rush nunca ganhou um Grammy. Não, eles não escreveram esta música para falar especificamente disto. Não, não estou falando da falta de integritade dos Titãs (O Tony Belotto parece ser um bom rapaz). O sentido da ironia (no texto e nas demais referências) pode variar.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sobre o Cavalo de Troia. Cavalo?

Artigo publicado na coluna "Universo das Letras", do jornal Gazeta do Sul, na edição de 14-15 de julho.



No oitavo canto da Odisseia, de Homero, Demódoco, aedo da corte dos feácios, narra um dos mais célebres episódios da guerra que houvera entre gregos e troianos: o do cavalo. Para relembrá-lo, mas com outro verniz interpretativo, convido a uma leitura do poema "Dúvida histórica", de Marina Colasanti, publicado em 2009, pela Record, no livro Passageira em trânsito.

          Diz Montale que se estava apertado
          no ventre do Cavalo de Troia
          uns contra os outros como sardinha em lata.
          E eu me pergunto se teriam
          os de Ulisses
          esculpido conspícuos testículos e
          um membro no seu histórico equino
          para melhor burlar os inimigos.
          Pois não era cavalo
          o que deixaram
          como presente fosse
          frente à porta.
          Sob seu duplo disfarce, era uma égua
          que à noite
          na solidão silente entre muralhas
          lhes pariu uma ninhada
          de assassinos.

O golpe helênico que trouxe a derrota aos troianos foi antológico. (Devemos creditar os louros da vitória, em grande parte, a Atena, que inspirou o embuste). A vitória grega na lendária campanha na Ásia é um dos mais avassaladores triunfos guerreiros da literatura. Homero refere os troianos como "domadores de cavalos", um povo que cultivava ancestralmente esses animais e os ostentava como patrimônio singular e privilegiado. Mesmo assim, e justamente por isso, foram severamente arruinados pelos helenos, porque o garanhão monumental que acreditavam estar recebendo tinha, na verdade, um útero! É de se imaginar, entre os gregos, ocultos nas praias troianas, exclamações as mais escarnecidas quando seus inimigos receberam o “presente” sem atentar que superestimavam o embrulho – uma humilhação com toda a pompa e perfídia que Atena, a deusa da inteligência, podia patrocinar.

O “cavalo” de Troia mostrou que uma ação guerreira eficaz prescinde de espadas. O derradeiro recurso helênico na Guerra de Troia foi valer-se de duas coisas fundamentais: sabedoria e prática. Depois de perder guerreiros singulares, entre os quais o veloz Aquiles e o descomunal Aias, e ver as muralhas troianas ainda intactas, mesmo após dez anos de árduos enfrentamentos entre heróis magníficos, os helenos finalmente privilegiaram a inteligência. O arco de Héracles, que Filoctetes empunhava, não era o bastante, porque apenas mais um instrumento de força, tampouco o vigor combatente de reis intrépidos, como Diomedes. Contando, então, com ajuda divina, eis que Odisseu, o multifacetado, impôs a astúcia e propôs a armadilha do “cavalo”.

Naquele dia, cantos de júbilo devem ter ecoado para além do Ida, na fortaleza de Príamo: às suas portas, um colosso decretava a suserania troiana. Decretava? Ninguém ali percebeu que o monumento em verdade travestia um de seus símbolos mais estimados. Foi na calada da noite, após grande festa troiana, que o garanhão desvelou-se fêmea prenhe. Então, completamente à mercê das lâminas dos aqueus, a fortaleza dardânia, protegida por bêbados e bacânticos, ruiu vertiginosamente, para nunca mais erguer-se. "Deixe seu adversário acreditar que é vitorioso, porque isso o acomoda, e a acomodação é imprudente", aconselhou Sun Tzu, oriental como os troianos.

Além de estratégia guerreira sagaz, o “cavalo” foi um instrumento de destruição da honra troiana. Aquela terra, que Homero chamou de "rica em cavalos", toda imponente, que reverenciava a si mesma sob o rugir dos cascos de seus suntuosos equinos machos, foi derrotada através de uma égua! Que ultraje! Por outro lado, que façanha dos gregos submeter seus adversários a tamanho opróbrio! Melhor que foram todos mortos. Ou quase todos. Os poucos que sobreviveram trataram de rumar para bem longe dali. Que mancha teria ficado no brio dardânio ter de registrar tal infortúnio, digno de figurar na memória das humilhações! Pelo ventre mascarado de uma égua toda grávida de heróis, os vaidosos cavaleiros troianos foram reduzidos à vergonha e ao silêncio.


             Atena deu também um recado sutil: o pretenso mundo androcêntrico dos tempos de antes, diante do poder feminino, estava desarmado. Esqueciam que, se o dia era dos homens e da guerra, a noite era delas. O que de dia era masculino, à noite podia tornar-se feminino. Troia foi um exemplo. Por isso, não sei se os gregos não reverenciaram o feminino, porque muitos mitos lhe apontam excelências. Cavalo?

quarta-feira, 13 de junho de 2012

A vaca



Há três ou quatro anos apresentei um trabalho sobre cinema e infância. Na ocasião, privilegiei animações, porque, a princípio, costuma-se destiná-las ao público infantil. Privilegiei, também, produções que não quisessem ensinar bons costumes e etc. e que não apelassem para uma narrativa bê-a-bá. Muita coisa que é feita sob signo de cinema está cheia de mensagens de moldura para os "futuros adultos". Propus um cinema que pudesse ser fruído sem ruídos e uma fruição com vigor de infância, ou seja, com vigor de um primeiro momento em que um corpo vivo e presente se relaciona afetivamente com uma novidade, antes de qualquer conceito.

Decidi publicar este post para saldar uma dívida que fiz naquela noite. Entre as animações que apresentei, estava o curta A vaca (Korova, 1988), dirigido pelo cineasta russo Aleksandr Petrov e baseado em obra homônima do escritor Andrei Platonov. Prometi compartilhar o curta, mas esqueci. Perdoai. Saldo agora este débito, e aproveito para divulgar o belíssimo trabalho de Petrov com amigos e interessados.




Obs: Não sei por que o upload duplicou o vídeo. Mas, enfim, ele tem dez minutos de duração, não vinte. Os dez últimos minutos são duplicata sem som, que não consegui eliminar.

Abraços!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Filmes para temer no bom ou no mal sentido

- "[...] There's cotton candy, and rides, and all sorts of surprises down here. And balloons too, all colors".

- "Do they float?".

- "Oh yes, they float. And when your down here, with me, you float too".



Pennywise, o palhaço que dança, está voltando, desta vez em um longa-metragem. Instigadora de uma onda alucinante de coulrofobia (medo de palhaços), a obra It, de Stephen King, que talvez seja uma de suas melhores histórias de horror, será levada à telona, em duas partes, pela realizadora Cary Fukunaga (de Jane Eyre). Em 1990, a obra, conhecida no Brasil como A coisa, já tinha sido transformada em filme televisivo, com mais baixos que altos. O ponto alto daquela produção foi sem dúvida a interpretação de Tim Curry como Pennywise, monstro aracnídeo que se traveste de palhaço para atrair seu jantar: crianças. Não sem antes assustá-las, porque, segundo ele próprio, o medo torna suas carnes mais tenras e apetitosas. Vixe! Tive pesadelos lá pelos dez anos e passei a correr de palhaços depois disso. Tenho, aliás, ideias ótimas para o filme, mas não vou vendê-las barato caso a Warner, que vai financiar a nova adaptação, quiser arriscar. Não se arrependeriam, garanto. Seja como for, só torço para que o filme seja uma pura narrativa de horror, que misture Lang, Hitchcock e Romero, e não um videoclipe forjado por sustos e sangue, porque o material que eles têm em mãos é excelente para trabalhar o horror no seu sentido mais genuíno. Se fizerem tudo certo, os circos vão ir de vez à falência. Ah, e Tim Curry poderia reprisar seu papel, certamente.

Outra produção, cada vez mais adiada, que já me deixou curioso, mas não deixa mais, é World war Z, baseada na obra homônima de Max Brooks. Protagonizado por Brad Pitt e dirigido pelo, a meu ver, pouco empolgante Marc Forster, o longa deveria ter estreado no início deste ano. Foi adiado, sem muitas explicações. Quando isso acontece, meu caro, ou o filme será excelente (lembrem-se de Kubrick), ou uma porcaria. Geralmente ocorre o segundo caso. Agora, para piorar, o filme foi adiado para julho de 2013 porque o roteiro (que já foi filmado!) será reescrito por Damon Lindelof (o perdido de Lost), e essa reescrita será refilmada. Ora, me poupe. É muita pretensão. Fizeram porcaria e agora vão chamar um porcaria (me perdoem os fãs de Lost), que está com a bola toda depois que fez uns rabiscos para o novo Prometheus, de Ridley Scott, filme que estão querendo vender como cult antes mesmo de estrear. Imagino que a brincadeira toda não vai sair por menos de 250 milhões. Devem estar se borrando para o caso de o filme ser piada, como andam sendo as produções milionárias da Disney (John Carter e etc.), e levar muita gente à falência. Conheço pessoas que com 10 milhões (ou bem menos até) fariam coisa muuuito melhor. Horror e indústria, juntos, só produzem pastiche e sadismo. Horror mesmo depende de um realizador com muito mais visão e conhecimento que dólares nos bolsos.

Por último, foi anunciado que Neil Marshall dirigirá A última viagem do Demeter, sobre o navio em que viajou Drácula. Não sei o que pensar sobre isso, porque será a primeira vez que Marshall fará um filme sob encomenda (nem o roteiro será dele, mas do cara que escreveu o péssimo Caça às bruxas, com Nicolas Cage). Talvez Marshall consiga ter mão para fazer de uma encomenda algo legal, mas não sei se poderá ter voz, e isso é fundamental, ainda mais para um criador como ele, que realizou Abismo do medo, um dos melhores filmes de horror da década passada. Sem voz, o que se consegue fazer é um clipe, e clipes divertem e saciam perturbações - jamais dialogam com o medo. Meu interesse sempre foi esse diálogo.


Abraço!