segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

20 anos sem Jafar

No mais recente sábado, 08 de janeiro, foi publicado no caderno "Cultura", da Zero Hora, ótima e oportuna matéria sobre a condenação do cineasta iraniano Jafar Panahi. Não são poucas as vozes que, mundo afora, têm protestado contra o ato e clamado pela libertação do artista. Registro aqui a minha.

Vamos aos fatos. O tom politicamente crítico das produções de Panahi sempre incomodou os governantes iranianos. Desde que deu início à consolidação de uma carreira cinematográfica, no início dos anos 90, ao lado de seu amigo e colaborador, o diretor Abbas Kiarostami, Panahi nunca fez questão de amainar as reações negativas advindas dos dirigentes de seu país. O cineasta encontrou matéria fílmica notável em situações que de muitas maneiras colocaram em debate o ultraconservadorismo do Irã. Quando Mahmoud Ahmadinejad, mais novo "companheiro" do Brasil, foi reeleito chefe supremo da nação iraniana, ficou decidido que vozes dissidentes, como a de Panahi, não mais poderiam ter livre manifestação. Então, em 2009, o cineasta, por opor-se ao governo, foi condenado ao cárcere, ao lado de muitos outros compatriotas.

Por algum tempo Panahi foi considerado desaparecido pela família. Houve boatos de que poderia estar morto, mas provavelmente foi, de alguma maneira, com o perdão do eufemismo, "pressionado" para delatar outros detratores, ou servir de exemplo. De repente reapareceu, e foi mantido em prisão domiciliar, aguardando julgamento. O veredito saiu em 20 de dezembro de 2010: Panahi foi condenado a seis anos de prisão e a 20 anos sem direito de filmar ou conceder entrevistas. Em nome da tirania, "matavam", pelas próximas duas décadas, um dos mais brilhantes cineastas de todo o mundo.

Estranho pensar que a rejeição popular que Ahmadinejad sofre no Irã é inversamente proporcional à aprovação com que Lula encerrou seu governo no Brasil. Com 90% ou mais de opiniões contrárias à sua pessoa, Ahmadinejad é duramente criticado pelo povo iraniano, entre eles Panahi, pelas condições altamente suspeitas com que foi reeleito. Acusam-no de fraude eleitoral, o que, pelo vigor dos protestos lá realizados, é bem possível. Para abafar, eis que, mais uma vez, emerge a tirania. Panahi é apenas o mais conhecido nome de um vasto grupo de dissidentes condenados injustamente à prisão.

Pela libertação do cineasta Jafar Panahi e de todos os iranianos presos por condenarem a tirania de Ahmadinejad, registro, aqui, esta postagem. Tantas pessoas e tantos grandes artistas já foram castigados na História pelo autoritarismo de uma instituição ou de um tirano. E agora?



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