quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sir Ken Robinson e o Elemento

Sem sombra de dúvida Ken Robinson, inglês, 60 anos, é um militante fervoroso da criatividade e da educação de qualidade. Defensor das artes, ele questiona o porquê da hierarquia das matérias no ensino. Esta hierarquia estabelece que a Matemática esteja no topo e as artes estejam em baixo, fato este que é facilmente visível considerando o número de aulas de Matemática e número de aulas de educação artística. Para este porquê, ele mesmo tem a resposta: a educação da atualidade foi desenvolvida para suprir as necessidades da industrialização do começo do século passado. Porém, as necessidades daquela época são muito diferentes das de hoje. É aí que entra a Criatividade.

Seu argumento é que a Criatividade deva ter o mesmo tratamento que a Matemática nas escolas. Somente assim poderemos realmente enfrentar os desafios do próximo século. Isto faz todo o sentido para mim. Nossas crianças são educadas e premiadas por aquilo que aprendem ou decoraram mas não por aquilo que criam e o erro, essencial para a Criatividade, é muito mal visto. (Faço aqui um parêntese sobre o decorar nas escolas. Na escola em que estudei nos últimos anos, Estadual Cônego Albino Juchem, eu tinha várias professoras e professores muito bons. Porém, recentemente fiquei sabendo que as crianças aprendem a tabuada, as contas de multiplicação, decorando-a e não realmente aprendendo de onde vem aqueles números. 'É... elas estão com dificuldades para decorar', disse a professora delas à uma mãe. No final da década de 1980 ou começo da de 1990, quando aprendia tabuada, o método era exatamente o mesmo, nada de saber de onde vinham os números mágicos do resultado. Naquela época, e até hoje, o contar nos dedos era extremamente proibido, ou seja, qualquer tentativa da criança entender melhor o que se passava era rapidamente desencorajada (hoje vejo Engenheiros, Mestres e Doutores utilizando os dedos para contar quando julgam necessário, então por que uma criança não poderia fazê-lo ?)).


Ken Robinson também questiona a utilização dos remédios para o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Se não estou enganado os remédios para TDAH só ficam atrás em número de vendas para os antidepressivos e os contra impotência sexual. É possível que muitos casos estejam sendo usados para acalmar as crianças e fazer com que elas se foquem mais nos estudos. Ele pergunta: 'Como pode um criança, cercada de videogames, mais de 100 canais de TV e mais a Internet, não ser distraída na escola ?'. Desde ponto de vista, afirma ele, a escola é muito chata e a reformulação do ensino passa por como fazer com que a escola não seja tão chata. Imaginem os retornos positivos que o cérebro recebe pelas vitórias nos videogames versus os retornos quase inexistentes no ato de decorar a tabuada.



No seu livro, O Elemento-chave (The Element), recém lançado no Brasil ele apresenta todos estes pontos acima de maneira mais detalhada (os capítulos finais valem seu peso em ouro). O título do livro, remete a busca das pessoas pelo seu Elemento-chave, que é aquilo que faz as pessoas terem uma sensação de completude, mas não apenas, quando estão conectadas a ele. O livro começa com a pragmática história da garotinha Gillian que é sucintamente apresentada durante parte do vídeo abaixo.

Para todos aqueles ligados à educação e pesquisadores da Criatividade este livro é essencial. O vídeo abaixo foi o meu primeiro contato com suas idéias (como eu gosto de idéia com acento). Gostei tanto do vídeo que fui procurar seus livros e para minha felicidade um deles já encontrava-se publicado no Brasil, optei por comprar a versão brasileira para efeitos de contagem. Este vídeo também é muito bom para treinar o ouvido para o inglês britânico, quem não quiser fazê-lo sinta-se livre para utilizar a legenda em português. As piadas dele são um show à parte, tanto de humor quanto de sagacidade ('imaginem Shakespeare sendo educado no sistema de educação atual').


3 comentários:

  1. Bom, Josué. Não conhecia esse Ken Robinson e gostei de várias ideias que ele apresenta. Ele certamente leu e estudou os russos.

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  2. Legal, Felten. Poderias citar quais russos se refere ? Pergunto pois não conheço absolutamente nada de educadores russos.

    Valeu !

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  3. Me refiro especialmente a L. S. Vigotsky, pensador russo que, no início do século passado, fundamentou uma "psicologia da arte", ao lado de todo um processo educativo pautado pelo interacionismo. Vigotsky fazia parte de um notável grupo de estudiosos, a glória de Moscou naqueles tempos. Mikhail Bakhtin era outro integrante desse círculo de mestres. No cinema, Eisenstein. Todos foram geniais.

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