quinta-feira, 24 de março de 2011

Férias em Bento Gonçalves

De volta aos tempos em que weblog ainda não havia dado origem a blog, vou fazer um log de minha férias aqui, na web. Coloquei em forma de notas os possíveis spoilers/revelações que podem tirar um pouco da magia do momento caso o leitor deseje fazer programação semelhante.

Eu e minha namorada passamos estas férias de Verão em Bento Gonçalves. Foi simplesmente ótimo ! Toda pessoa que tem o vinho entre suas bebidas favoritas deve passar as férias em Bento ao menos uma vez na vida. Para os connaisseurs e enófilos, a oportunidade de muitas conversas em alto nível com várias pessoas possibilitando inclusive a descoberta de alguns segredos, para aqueles que apenas apreciam o vinho, a oportunidade de muitas degustações e aquisição de muitas informação sobre este universo.

Inicialmente, ficamos hospedados na Villa Valduga, pousada da vinícola Casa Valduga onde anualmente ocorre a Festa da Vindima onde os hospedes participam da colheita da uva(1). Neste dia tive a oportunidade inédita de degustar a uva Cabernet Sauvignon, diretamente do pé. Havia ouvido falar que esta uva não era doce e/ou gostosa de comer, porém confesso que aquela que provei estava ótima e com um gosto bastante agradável. Há quem diga que após comer muito ela torna-se enjoativa mas não comi o suficiente para isto. Nas duas fotos imediatamente abaixo: vista da sacada do quarto em que ficamos hospedados e plantação de Cabernet Sauvignon em espaldeiras.


Na Villa Valduga fomos muito bem recepcionados. O lugar é ótimo e os quartos são aconchegantes. Em nosso quarto nos aguardava um garrafa de Chardonnay (descobri, lê-se chardoné) Gran Reserva 2010 (esta garrafa foi bebida aqui em Santa Maria na Sexta-feira de Carnaval harmonizada com pão de queijo). Todos os almoços foram acompanhados de vinho, sempre pago a parte. Por exemplo, o almoço no estilo rodízio típico italiano no restaurante Maria V. (foto abaixo), dentro da própria Villa Valduga, é simplesmente ótimo, com destaque especial para a massa com molho de tomate seco e a carne de porco com geléia de morango com pimenta. Harmonizamos tudo isto em geral com um Cabernet Sauvignon ou um corte bordalês (Merlot + Cabernet Sauvignon), normalmente uma garrafa de 375 ml, metade de uma normal, era suficiente para um almoço a dois. Um vez também combinamos a sobremesa com um espumante Moscatel. Aliás a Moscatel da Casa Valduga está esplêndida(2).



Um jantar, incluído no pacote, contou com com um ótimo prato de entrada, polenta com couve e cogumelos, se não me engano. O prato principal era composto por carne de porco coberto por uma crosta crocante de pimenta e cebola refogada. Harmonizamos com o ótimo Cabernet Sauvignon da linha Mundvs (lê-se Mundus). A linha Mundvs objetiva vinhos com a marca da Casa Valduga porém com uvas de outros países, este que tomamos era de origem chilena. Aliás, no Sábado tivemos uma visita guiada por dentro da cave da Casa Valduga (prédio amarelado ao fundo na primeira foto do post) e esta visita foi guiada pelo enólogo Eduardo Valduga responsável pela linha Mundvs. Nesta visita, também foi acompanhada pelo enólogo Marcos que orientou um curso de degustação, também incluído no pacote, onde ganhamos taças de cristal.

Comentei com o Marcos durante o curso de degustação que o vinho Gamay (lê-se Gamé) da Miolo apresenta um bom resultado pela proposta dele (vinho para apreciação jovem, sempre a safra do mesmo ano, e ser um vinho para prateleiras de supermercados). Ele mais ou menos que concordou. Aliás faço aqui um parêntese: o Gamay da Miolo é melhor vinho deles dos quais experimentei considerando a minha referência para vinhos: proposta/custo/qualidade. Sim, já degustei o Lote 43 2005 e sobre ele falarei mais em outro post futuro. Marcos também me esclareceu vários detalhes técnicos que sempre tive curiosidade.

A idéias do Eduardo Valduga, explicitadas durante a visita à cave e ao setor vinificação, são bem interessantes tratando-se de indústria. Dentre elas, a utilização de rolhas de latão que garantem com maior precisão que o vinho embalado será o mesmo que chegará o consumidor, sem as alterações provocadas pelo uso da rolha tradicional. Realmente a Casa Valduga segue um pouco estes preceitos, os vinhos Rosé utilizam rolha sintética, mais adequada para vinhos que devem ser bebidos jovens.

Na botique da Casa Valduga abri a guaiaca. Degustamos vários rótulos e adquirimos vários e o destaque vai para a excelente Espumante Natura com 0% de açúcar. Eu esperava algo realmente forte, mas não: ela é extremamente leve e com um tostado fantástico. Comprei uma, abrirei quando terminar um certo projeto. A foto abaixo mostra uma pequena parte da cave onde os vinhos descansam, lembrei da frase floydiana 'O amor é a sombra que amadurece o vinho', e é a mais pura verdade.
Visitamos também a Lídio Carraro e degustamos seus rótulos. Quem nos atendeu foi a esposa do Lídio Carraro que vimos apenas através de um vídeo institucional. A Lídio Carraro vem tendo muito destaque internacional com seus vinhos, seus vinhedos encontram-se em Encruzilhada do Sul, na Serra Sudeste, região apontada por muitos como o futuro da vitivinicultura do estado.

Quem nos levou até a Lídio Carraro foi o Marcelo, que é Diretor Comercial da Domno(3) e estava fazendo um serviço de transfer ocasional como um favor ao seu amigo que tínhamos contactado. O Marcelo já havia trabalhado anteriormente com a Lídio Carraro e conversando um pouco com ele comentei que o melhor tinto que já tomei foi o Tormentas Minimvs Anima 2006 de Marco Danielle, ele não conhecia e disse que iria atrás. Ao ouvir esta menção a esposa do seu Lídio comenta com um tom enciumado 'Ele não falou que ele utiliza as nossas uvas ?' e eu prontamente respondi, 'Sim. Falou. E falou muito bem da Lídio Carraro também'. E de fato é verdade, ele realmente faz comentários positivos sobre a vinícola no Livro de Tormentas. Aliás, mais também sobre este vinho em um post futuro.

Quase finalizando, depois de ficarmos na Villa Valduga durante alguns dias fomos para Pousada do Chalé, no centro de Bento Gonçalves. Conhecemos a vinícola Aurora e descobrimos que eles adicionam 20% de sacarose (açúcar!) no colheita tardia deles (um vinho para acompanhar sobremesas). Realmente uma pena e uma vergonha este tipo de atitude que beira a falta de respeito com o consumidor (sorte que tenho duas garrafas de Sauternes aqui em casa ainda :), experimentamos também o colheita tardia da Casa Valduga, bastante bom, mas eu gostaria de ver um pouco mais de acidez nele). Me pergunto o que mais a Aurora adiciona nos demais vinhos !!?

Finalizando, saí de Venâncio com 90 quilos devo ter voltado com pelo menos 92 e agora sigo na luta para voltar aos meus ideais 78. O prazer destas férias mais cedo ou mais tarde sairá de minhas células adiposas mas ficará eternamente na minha memória. Altamente recomendado. Abaixo a vista do Spa do Vinho de cima da vinícola Cave de Pedra (diária bem carinha, um dia nos hospedaremos nele).



(1) Na verdade a uva colhida foi a Isabel, não colhemos nenhuma das viníferas pois imagino que elas iriam requerer um cuidado maior.
(2) No café da manhã é possível tomar Moscatel à vontade, simplesmente ótimo, duas taças deixam tudo muito mais perfeito !
(3) Experimentamos o .Nero Cabernet Sauvignon da Domno, empresa do grupo Casa Valduga, e achamos de um bom custo benefício, estamos em busca da Moscatel deles.
(4) Todos os 'lê-se' aprendi lá por isto o destaque aqui. ;)

Um comentário:

  1. O importante é não cultivar adiposidade cerebral. As outras adiposidades, distintas entre si não por hierarquia, mas por grau, que se ajeitem, atomicamente... Estou lendo Aristóteles e minha ânsia de 'classificar' está mais saliente! Abração!

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