segunda-feira, 13 de junho de 2011

Futebol, imaginação, sentido e ontologia

Estou há algum tempo protelando a escrita de um texto sobre o Internacional, de Porto Alegre, mas, em geral, não vejo mais muito sentido em comentar futebol. Além disso, não tenho tido muito tempo, e a escrita de textos, mesmo para este espaço, é uma tarefa assaz prazenteira para mim; não consigo dedicar a ela pouco de minha atenção. Por isso sempre preciso de um mínimo de tempo para, em primeiro lugar, elaborar ideias e, em segundo lugar, pensar o que vai ser escrito conforme o que estou querendo que fique dito. Não consigo fazer isso sem este trabalho com a escrita, que é cheio de um trabalho antes da escrita. Enfim, é um processo complexo.

Mas, voltando ao tema anunciado, não vejo mais muito sentido em comentar futebol. Talvez o futebol tenha perdido, em mim, um pouco do sentido de uma paixão - e isso não tem a ver com o momento ruim do Internacional, clube de futebol de Porto Alegre do qual sou torcedor. Estou num momento de vida em que encontro cada vez menos sentido em paixões, e não consigo mais aceitar um estatuto de torcedor na minha constituição como Ser que não seja, em linhas gerais, mais que uma simples paixão pessoal, logo sem sentido - pelo menos sem o sentido que estou gostando de experienciar nas coisas da vida. Não seria assim, evidentemente, se o futebol, de alguma maneira, fosse realmente necessário em minha vida. Na verdade, até, digamos, ontem, era, ou parecia ser, necessário para que eu tivesse uma determinada vivenciação imaginária. Reside nesse sentido de necessidade, naturalmente rompido, a minha atual relação com o futebol, o que significa que ele não será mais que um divertimento e que comentá-lo tornou-se algo banal. Mesmo assim, reconheço que há nele um traço mítico-cultural muito significativo, sobretudo em certos espaços específicos do Brasil, mas essa já seria uma outra história, num outro sentido que não o propriamente futebolístico. O futebol pode tornar-se, como talvez diria Mircea Eliade, uma espécie de antídoto para a regeneração imaginária e vivencial da felicidade, em tempos de tragédias, atrocidades e misérias sem explicação formal e objetiva.

Entretanto, mesmo depois dessas linhas, admito que o Ser é volúvel e, em muitos aspectos, arbitrário. Isso significa que posso naturalmente mudar de perspectiva sem perceber ou ter que dar a entender alguma razão formal ou objetiva. O lugar que falo, portanto, é apenas o lugar de um momento. Nada impede que o futebol torne a ser significativo para minha vivenciação imaginária. Só não estou esperando que isso aconteça ou interessado se isso pode acontecer, afinal não considero que eu possa determinar minha imaginação nem estou preocupado em pré-determiná-la. A vida é (con)fluência, já disse, há muito, Heráclito - Heráclito e seu (dis)curso, como bem notou Schüler. Acho que ele pode ter tido razão.






Um comentário:

  1. Comigo aconteceu a mesma coisa, Dilso.
    Também sou torcedor do Inter (embora nunca tenha gastado um centavo que seja com ele) e vivia me preocupando com o que acontecia com ele.
    Hoje não tenho mais paciência para aturar futebol, acho que por perceber que isso não passa de uma grande perda de tempo.
    Viver discutindo o resto da vida?
    Pra quê?
    Se for para se discutir, que seja sobre algo que valha a pena.
    Até mais.

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