quinta-feira, 1 de março de 2012

As músicas que cantarolamos e nosso conteúdo inconsciente

Muito provavelmente você que neste momento lê este post já se flagrou cantarolando ou assoviando uma determinada música. Este ato pode não ser um simples divertimento aleatório, algo apenas para quebrar o tédio, e sim uma importante dica de nosso inconsciente para nós mesmos ou para as pessoas ao nosso redor se forem possuidoras de certa agudeza de espírito.

Nunca havia me dado conta que uma simples melodia em um assovio poderia conter tanta informação até ler o livro Alucinações musicais do Oliver Sacks (fiz alguns comentários sobre ele aqui). Em um determinado capítulo Oliver Sacks comenta que estava entrevistando um sujeito para uma de suas pesquisas quando o sujeito solicitou para ir ao banheiro. Minutos depois o sujeito voltou assobiando uma música que seria algo equivalente ao nosso Trem das Onze ('Não posso ficar nem mais um minuto com você...') e Oliver Sacks interpretou que a entrevista pudesse estar sendo penosa, que talvez fosse melhor terminá-la, e assim procedeu.

Desde então venho prestando muita atenção nas músicas que me flagro cantando ou assoviando. Hoje recordo que a música Arriving Somewhere But Not Here do então recém lançado álbum Deadwing do Porcupine Tree ecoava muito em minha mente quando eu estava quase terminando a faculdade. Na época eu não havia lido o livro do Oliver Sacks, mas fazendo uma análise posterior (comum aos comentaristas de futebol da televisão e espertos em geral), noto o claro desejo de 'desembarcar em algum lugar, mas não aqui', no caso, o aqui era Venâncio Aires, cidade da qual me mudei pouco mais de um mês depois de formado.

Outra vez, desta vez depois da leitura do livro, quando certas mudanças estavam para acontecer, uma parte da música Scars, do Rush, não me deixava quieto 'Scars of pleasure, scars of pain. Atmospheric changes make you sensitive again'. As feridas, sejam de prazer ou de dor, são sensíveis as mudanças atmosféricas, mas neste caso eram feridas de tensão e insegurança que as mudanças estavam trazendo. O fato de simplesmente ter uma maior consciência do que se passa com você não é garantia de solução dos problemas, mas definitivamente ajuda. Em suma, eu estava apenas 'martyring myself for causion' o que é algo que em geral 'is not going to help at all', para citar a música Lost for words do Pink Floyd a qual possui uma deliciosa e assobiável introdução.

As possibilidades são enormes. Para citar algumas rápidas e não deixar este post demasiadamente tedioso e extenso (dizem que concisão é uma virtude, afinal). Cantarolar 'Siempre tienes que abrir tanto la boca, Metida en las cosas, donde nada te importa' de Chinga tu madre dos mexicanos do Molotov quando eu ou alguém fala demais, na hora errada, algo equivocado, etc. Assoviar ou cantarolar melodias de Thick as brick do Jethro Tull em momentos que se gostaria de ser duro como um tijolo, ou ter um tijolo em mãos (sei lá). A parte 'Plus ça change, plus c'est la même chose' de Circumstantes do Rush, quando as coisas mudam, mas na verdade não mudam (Mais do mesmo da Legião também faz todo sentido). Exaltar Bruno Mars e compartilhar The Lazy Song no intervalo do almoço em um dia de trabalho (vi algum amigo (ou amigo de amigo) no Facebook fazer isto certa vez, não lembro quem).

Resumindo, caso você conheça a banda Primus, a próxima vez que você batucar um pãpãã pã pãrã pãrã pãã, pode ser que você não goste muito de algumas pessoas que estão para chegar e você nem saiba. Ouça, literalmente, seu inconsciente.

Um comentário:

  1. Oi, Josué! Estive almoçando hoje com a Aninha e o Fabiano. Eu estarei em um evento internacional em Santa Maria em junho. Qual o teu e-mail? Sou docente de Filosofia na UNISC. Aguardo um retorno teu. Meu blog é:
    http://rocandelpitonisa.blogspot.com
    Abraço! Rô Candeloro

    ResponderExcluir