Acontece hoje à noite a octagésima segunda edição do Oscar, superestimado prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos. Já disse aqui neste espaço que não considero essa uma premiação representativa do cinema mundial - e nem mesmo do cinema americano. O Oscar é muito mais um show business milionário do que a conclusão das reflexões de uma Academia de Artes Cinematográficas acerca dos filmes que concentram mais qualidades entre aqueles que foram produzidos nos últimos meses.
Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo, já distante, em que o Oscar, mesmo sendo voltado quase que exclusivamente às produções internas, costumava consagrar bons filmes com frequência. O que é raro, hoje em dia. Gostei da vitória de Menina de ouro (Million dollar baby, 2004), de Clint Eastwood, um filme excepcional. É o único que me lembro que tenha merecidamente ganho o prêmio nos últimos tempos. Lamento que os americanos tenham ignorado um filme como Amantes (Two lovers, 2008), de James Gray, outra obra excepcional. Também lamento que os americanos, mesmo tendo elevado o número de indicados para dez, não tenham sequer considerado que alguma produção feita fora de seu país tenha sido digna de figurar entre os que eles escolheram como os melhores. Um absurdo para um prêmio que se quer credenciável perante os grandes veículos mundiais de divulgação de cinema. Ah não, para isso existe a categoria "filme estrangeiro". Pois bem, se quisermos assistir filmes de artes e ciências cinematográficas temos que prestar atenção nessa categoria.
A verdade é que o Oscar é uma premiação que se configura no sentido de valorizar apenas o cinema americano - e arrecadar muito dinheiro. É sabido que os filmes, depois que indicados, multiplicam seu faturamento. O Oscar é um empresa. Até mesmo Guerra ao terror (The hurt locker, 2008), de Kathryn Bigelow, um filme desprezado até então dentro de seu país, deu um salto quantitativo em relação ao interesse dos cidadãos americanos, que preferem o entretenimento-pipoca. O que não é um problema. Todos gostamos de entretenimento puro e descompromissado, como é o caso de Avatar (Avatar, 2009), de James Cameron, que é uma ótima diversão. Mas pode significar um problema cultural quando um filme como o de Bigelow só passa a ser valorizado depois que a crítica estrangeira se manifesta. O público americano, de uma maneira geral, é um tanto avesso ao senso artístico. Pelo menos é isso que essa situação indica. Recentemente li que um filme, em plena pré-produção, foi subitamente cancelado com a justificativa de que o argumento era artístico demais. Outro exemplo recente foi o afastamento de Sam Raimi do blockbuster Homem-aranha, que se negou a render-se mais uma vez aos caprichos da Sony depois das estapafúrdias intervenções no terceiro filme da série. Um absurdo. Mas perfeitamente compreensível. É assim que a indústria de cinema dos EUA trabalha. O único aspecto legal disso tudo é que ninguém mais além dos americanos investe com tanta ênfase na reconstituição de mundos históricos e na construção de universos mágicos e fantásticos - mesmo que a história e/ou o tratamento muitas vezes acabe destruindo qualquer promessa positiva.
Voltando ao tema da postagem, acho que Bastardos inglórios mereceria a estatueta de melhor filme - porque realmente foi o melhor filme americano em 2009. Para melhor diretor, Kathryn Bigelow, porque seu trabalho em Guerra ao terror tem méritos e é um fato isolado no cinema recente dos EUA. Para James Cameron eu deixaria os prêmios técnico-artísticos, menos o de fotografia, que deve ficar com Robert Richardson, por Bastardos, o de música, porque James Horner não merece ser premiado desta vez - embora eu não tenha ouvido os outros trabalhos -, e o de edição, que a meu ver seria o prêmio mais difícil, considerando Bastardos e Guerra. Quanto aos atores não sei porque não assisti tudo, mas acho difícil alguém ter superado, na categoria "coadjuvante", Christoph Waltz, o Hans Landa do pastiche de Quentin Tarantino.
Amanhã talvez escreva alguma coisa sobre os ganhadores.
Poisé....
ResponderExcluirNão assisti The Hurt Locker justamente por causa da tradução para o português.
"Guerra ao Terror" não é um nome que em seduzia na locadora. Pelo contrário, só conseguia imaginar um filme repleto de patriotismo americano acerca da guerra no Iraque.
No próximo fds, assistirei esse filme...
MAS eu esclheria Bastardos Inglórios, Tarantino volta com tudo. E, sem fazer rasgação de seda, constrói uma narrativa sólida, que em capítulos a torna mais concisa.
O fantástico do filme de Tarantino é que tudo eh muito bem explicadinho.
Quero assistir Invictus...
"Guerra ao terror" é um título absurdo. O título original seria algo como "Onde a dor está guardada". E Ralph Fiennes, David Morse e Guy Pearce, apesar de estamparem seus conhecidos nomes da capa, nem coadjuvantes do filme são. Suas participações são curtíssimas. Eu já disse e repito: a divulgação do filme foi um crime. Mas só podia ser assim mesmo, do jeito que foi rejeitado dentro dos EUA. Mas é um bom filme, com uma linguagem muito boa. Não se deixe intimidar pelo cartaz horroroso e pelo título medonho.
ResponderExcluirTambém estava na torcida por Tarantino. "Bastardos" é ótimo filme. E, no fim, só Christoph Waltz ganhou, o que era até evidente.
Quanto a Invictus, não assisti ainda, mas estou preparando um post específico sobre o cinema de Clint Eastwood. Aguarde.
Olá Fabiano,
ResponderExcluiro MtG sou eu, o Jorge, tenho q arrumar meu nome, não manjo mt desse esquema de blog.
Bom, vc comentou q apenas a premiação de Menina de Ouro agradou vc. Sendo assim, sugiro que vc escreva um post sobre as principais premiações, juntamente com seus prós e contras. Ah, também seria legal vc indicar algumas premiações q vc apreciou e outras que vc conestou...
Já q estamos em clima de oscar, a princiapl gafe do Oscar na última década foi a premiação de Chicago, ao invés do O Pianista...
Bom, fica aí a sugestão...
Ok, Jorge. Obrigado pela sugestão! Vou pensar no assunto.
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