terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Avatar: o retorno da magia do cinema

O cinema norte-americano, de uma forma geral, está pautado na exploração das potencialidades comerciais. Muitos o consideram como uma indústria puramente de entretenimento – ou alienamento, porquanto seja, na maioria das vezes, constituído de ausência de inteligência e de senso artístico.

Por outro lado, é a única que investe na (re)criação de espaços míticos e mundos mágicos e históricos, com poucas exceções em outros lugares do mundo. Entretanto, raras foram as vezes em que o poder da indústria cinematográfica americana esteve a serviço de uma proposta artística. Geralmente o que ocorre é o contrário: uma ideia insossa a serviço do propósito financeiro. O cinema do sonho, que busca uma arte cinematográfica imagética e sensorial, sem intelectualizá-la, mas explorando o caráter sonhador do humano, há muito tempo inexiste nos circuitos da sétima arte. Em outras palavras, aquele cinema que desloca o espectador do mundo racional e o liberta para trazer à tona sensações corpóreas há muito não é produzido – não até agora, quando surge Avatar.

Dirigido por James Cameron, o mesmo realizador de Titanic, foi necessário um esquema de produção monumental para que Avatar existisse. Segundo Cameron, a ideia surgiu mais ou menos em 1995, quando Titanic já estava em pré-produção. Entretanto, a proposta estética era tão complexa para a tecnologia da época que o projeto foi adiado indefinidamente. Diz o cineasta que a realização de Avatar só se tornou possível graças aos avanços tecnológicos obtidos com a trilogia O senhor dos anéis, de Peter Jackson, mas sabe-se que o diretor nunca parou de trabalhar em seu projeto.

Ao todo foram quase quinze anos de trabalho e cerca de 500 milhões de dólares envolvidos na produção, divulgação e distribuição do longa-metragem. Cameron desenvolveu um novo tipo de captação de imagens em três dimensões, obtido através de uma câmera digital pioneira chamada “3-D estereoscópica”, com altíssima resolução e definição. Praticamente todo o filme é resultado de um imenso processo de desenvolvimento digital de imagens. Todo esse trabalho visionário a serviço de uma ideia: criar um universo inteiro como se ele fosse um imenso sonho e gerar, com isso, um belo espetáculo.

Avatar é uma experiência sensorial e imagética. Cores, formas, sons e perspectivas, aos milhares e com uma quantidade gigantesca de detalhes, arrebatam o espectador e o lançam a um nível de experienciação enorme. Avatar não se pretende além disso, embora a história apresente uma interessantíssima concepção de estruturação biológica, quase transcendental: Pandora, o mundo de James Cameron, é todo ele um imenso organismo, de um ponto de vista físico e até metafísico. Jake Sully, o soldado paraplégico cuja consciência racional, sensível e motora é transferida para o corpo cientificamente desenvolvido de um Na’vi – os seres inteligentes que habitam o planeta -, representa uma imersão nesse mundo e nos conduz, como desbravadores do olhar, pelas florestas e montanhas colossais de Pandora.

Com Avatar James Cameron torna-se não só o “rei do mundo”, mas o “rei dos mundos”, até porque seu filme já é a quarta maior bilheteria em todos os tempos, com mais de um bilhão de dólares arrecadados. O senhor dos anéis – O retorno do rei, a segunda maior bilheteria, com cerca de um bilhão e cem milhões, está prestes a ser superado, o que tornará James Cameron um mito na indústria cinematográfica, com as duas maiores arrecadações da história. Contudo, para ele o que importa mesmo é dar vida às suas criações – custe o que custar.



* Texto integral originalmente publicado pelo jornal Folha do Mate, em 09 de janeiro de 2010. Alguns dados referenciados no texto estão defasados. Avatar é, hoje, a maior bilheteria de todos os tempos, com mais de dois bilhões e meio de dólares arrecadados em todo o mundo. O filme está há dez semanas no topo das bilheteriais mundiais - um recorde -, e ostenta, também, o primeiro lugar entre as maiores bilheterias conquistadas exclusivamente em território americano, com quase 700 milhões de dólares. Em breve um post sobre essas questões.

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