sábado, 13 de março de 2010

O incansável Clint

Entre os cineastas americanos que mais gosto na atualidade está Clint Eastwood. No próximo 31 de maio o ator, diretor, roteirista e compositor completará 80 anos de idade. Um homem que começou e desenvolveu sua carreira estrelando toda a sorte de westerns e filmes policiais, em parcerias antológicas com Sergio Leone e Don Siegel, seus mentores, e que pouco se lembra desse período, porque, segundo confessa, estava quase que permanentemente sob efeito de etílicos. Quem diria que um artista com esse histórico e perfil chegaria a realizar um filme brilhantemente transgressor como Os imperdoáveis (The unforgiven, 1992), uma obra-prima do cinema moderno? Mas Clint Eastwood já mostrara grande personalidade e talento artístico muito antes, com os ótimos Cavaleiro solitário (Pale rider, 1985), praticamente uma homenagem aos papéis que o marcaram, e Bird (Bird, 1988), cinebiografia do magistral trompetista e jazzista Charlie Parker.

É incrível a maturidade que atingiu o cinema de Clint Eastwood, que chegou ao ápice com Menina de ouro (Million dollar baby, 2004), um dos melhores filmes da década realizado por um cineasta americano. Desde então Eastwood não parou mais de emplacar sucessos de crítica, com A conquista da honra (Flags of our fathers, 2006), Cartas de Iwo Jima (Letters from Iwo Jima, 2006), A troca (The changeling, 2008), Gran Torino (Gran Torino, 2008) e, o mais recente, Invictus (Invictus, 2009). Clint Eastwood tornou-se um mestre da sétima arte, com rara lucidez. Um cineasta que sempre sabe com muita clareza o que quer e o que não quer. Parece que a longevidade, período em que cineastas quase sempre diminuem a frequência de trabalho, teve efeito inverso em Eastwood. Consciente do tempo de lucidez, criatividade e disponibilidade física que lhe resta, Eastwood decidiu não perder tempo. Sua vida parece inteiramente voltada à arte de criar cinema. E é também impressionante o ritmo de filmagem adquirido pelo diretor: são cerca de doze minutos diários de cenas concluídas, enquanto que a média americana considerada conveniente equivale a seis minutos diários. E quem trabalha com o cineasta garante: não há ambiente de trabalho mais perfeito do que o set de Clint Eastwood. Há uma aura de respeito e reverência muito grande pelo eterno Dirty Harry, tanto dentro quanto fora das telas. Cercado por colaboradores experientes e que respeitam sua visão de cinema, Clint Eastwood constrói, a cada filme, uma carreira que sem dúvida ficará marcada na história



Atualmente o diretor finaliza seu novo projeto, Hereafter, que promete um suspense com retoques sobrenaturais - algo inédito em sua cinebiografia. Logo após dará início à produção de Hoover, em que tratará a vida do famoso primeiro diretor do FBI, J. Edgar Hoover. Fiquei feliz com a notícia de mais um projeto engatilhado por Eastwood - embora ainda não confirmado pelo diretor -, mesmo que a produção esteja por conta da Imagine Entertainment, dos canastrões Ron Howard, Brian Grazer e Todd Hallowell. Clint Eastwood ainda é um dos poucos cineastas que consegue fazer o que quer mesmo cercado de gorilas.

Vida longa, Clint. Que venham ainda muitos filmes - e se possível sem parar.

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