terça-feira, 29 de junho de 2010

A Copa até aqui e daqui em diante

Terminadas as oitavas de final da Copa do Mundo da África do Sul, conhecemos os emparelhamentos das quartas de final, fase que geralmente já destaca a provável equipe vencedora da competição.

Sexta-feira, às onze horas da manhã, o primeiro jogo apresentará o enfrentamento de Brasil e Holanda. Será o primeiro grande desafio da nossa seleção, tanto pela qualidade tática e individual da equipe holandesa quanto pela sua história futebolística, embora incomparável com a brasileira. A Holanda geralmente costuma jogar a Copa do Mundo com competência, e será interessante verificar o comportamento de nossa seleção diante de tal adversário em uma situação que só tolera vitória. Se vencer, e é bastante possível que vença, começa a sonhar efetivamente com um hexacampeonato.

À tarde jogam Uruguai e Gana, um jogo imprevisível, mas acreditamos na vitória uruguaia. Entretanto, também acreditávamos na vitória dos Estados Unidos, e os africanos surpreenderam. A seu favor, o local e a torcida, que emocionalmente podem insuflar os ânimos ganenses a favor de uma dedicação extra. Pelo Uruguai, uma maior capacidade individual de alguns jogadores pode ser decisiva, especialmente Suarez e Forlan, bem como um certo empenho que poderá surgir no sentido de legitimizar os dois títulos mundiais que a equipe possui.

No sábado, às onze horas, Argentina e Alemanha, outro jogo difícil de prever. Acredito que, teoricamente, a Alemanha, ou melhor, Joaquim Loew, técnico alemão, tenha vantagem sobre o midiático Maradona. A questão crucial que decidirá o jogo será o confronto entre a impressionante individualidade ofensiva dos argentinos e a capacidade alemã de lidar taticamente com o jogo, buscando responder aos argentinos sobretudo através de seus dois meninos: Özil e Müller, sem dúvidas as maiores surpresas da Copa. Um jogo para ser decidido em detalhes ou em muitos gols, para qualquer um dos lados. Seja qual for o resultado, esse é um emparelhamento complicado, porque o vencedor enfrentará o time que seguir do confronto entre Paraguai e Espanha, que jogarão à tarde.

Vejo o Paraguai com poucas chances de vencer a Espanha. Contra o Japão, nesta terça-feira, um adversário de pouca tradição mas alguma vontade, demonstraram cautela exagerada em não proporcionar chances para o gol japonês. Típica postura decisiva paraguaia. A Espanha, entretanto, sinalizou que não tem pressa para marcar, e, quando oportuno, sabe criar, em pequeno espaço e muito rapidamente, a situação de gol, e isso deve fazer a diferença. Portanto, o vencedor de Argentina e Alemanha provavelmente enfrentará a Espanha, salvo um grande acaso, e isso torna esse lado do emparelhamento rumo às finais bastante interessante. Dizem que, pela qualidade das seleções, é daí que talvez surgirá o campeão da Copa. É possível, mas esperamos que não. O confronto entre Holanda e Brasil poderá ser esclarecedor.

Em relação ao Brasil, lamento muito a ausência de Ramires, o talvez mais dinamicamente positivo jogador de meio-campo da seleção. O terceiro gol brasileiro contra o Chile ocorreu em um avanço excepcional de Ramires, e é execrável que alguns sujeitos tenham ignorado esse fato. Curioso que Ramires tenha recebido seu cartão em investida faltosa que realizou completamente fora da jogabilidade que competentemente estava desempenhando ao longo da partida. Dunga deveria tê-lo substituído, e isso será lamentado contra a Holanda. Penso que também faltou um pouco mais de maturidade ao jogador. Mas futebol é assim: um único lance pode ser decisivo, a favor ou contra, e esse terá repercussões no próximo jogo. Só espero que haja algum outro jogador com igual inspiração, até porque Elano e Felipe Melo estão, pelo menos estavam, até hoje, sem condições. Esse é, talvez, o único aspecto que me amedronta. O restante do time é igual ou melhor que os holandeses.

No mais, fiz um pequeno levantamento de alguns jogadores que, até aqui, obtiveram desempenho muito bom ou excepcional na Copa do Mundo. Esse levantamento baseia-se não no desempenho histórico do jogador, mas na efetiva participação que tiveram, até aqui, nos jogos desta Copa do Mundo.

Goleiros: Júlio César, do Brasil, e Eduardo, de Portugal. O primeiro só levou gols em grotescos vacilos defensivos, e o segundo levou apenas um gol, levemente irregular, mas compreensivelmente não percebido pela arbitragem, que eliminou os portugueses. Nos demais lances, penso que foram muralhas.

Zagueiros: Juan, do Brasil, Gerard Piqué, da Espanha, Ricardo Carvalho, de Portugal, Arne Friedrich, da Alemanha, e Lúcio, do Brasil. Todos foram individualmente muito competentes na tarefa de impossibilitar jogadas de ofensividade adversária. Juan foi perfeito contra o Chile, e me lembra o paraguaio Gamarra e sua belíssima atuação na Copa de 98. Se continuar assim, e digo isso porque futebol é muito suscetível ao instante, Robben não será comentado no próximo jogo.

Laterais: Sergio Ramos, da Espanha, Maicon, do Brasil, Claudio Morel Rodriguez, do Paraguai, e Philipp Lahm, da Alemanha. Lahm é, defensivamente, o melhor, a meu ver, e Ramos, ofensivamente. Maicon é equilibrado, mas tem tido demasiada cautela. Muito em função do restante do time. Quanto a Morel Rodriguez, gosto de sua garra, e não vi nenhuma jogada comprometida pelo seu lado.

Meio-campo: Mesut Özil, da Alemanha, Ramires, do Brasil, Angel di Maria, da Argentina, Xavi Hernandez, da Espanha, Bastian Schweinsteiger, da Alemanha, Wesley Sneijder, da Holanda, Landon Donovan, dos Estados Unidos, Gilberto Silva, do Brasil, e Yaya Toure, da Costa do Marfim. O melhor, para mim, tem sido Özil, da Alemanha, que mudou completamente o estilo criativo alemão, tornando-o muito parecido com o brasileiro. Entre os volantes, ficaria com Schweinsteiger e Gilberto Silva, que, dentro de sua função, precisamos admitir que foi, até aqui, muito competente. Di Maria é bom, mas, se o meio-campo argentino fosse, de fato, excepcional, o time seria imbatível. Ramires tem uma jogabilidade que, já comentei, é rara no futebol mundial. Xavi é quem comanda o bom meio-campo espanhol. Sneijder é o grande jogador holandês. Donovan fez bonito na obstinada mas pouco inspirada equipe americana, e Toure escolhi pela aplicação em cumprir defensivamente sua função de volante ao invés de querer tirar jogadores adversários de campo com pontapés. Kaká é bom, muito bom, mas, comparado com esses, ficaria, no momento, um degrau abaixo, ou, em uma luxuosa reserva. Talvez substituiria di Maria.

Ataque: David Villa, da Espanha, Müller, da Alemanha, Lionel Messi, da Argentina, Gonzalo Higuaín, da Argentina, Luis Suarez, do Uruguai, e Luis Fabiano, do Brasil. Villa é, até aqui, o grande atacante desta Copa, sem dúvidas. É graças a ele que a Espanha disputa, ainda, o título, porque não adianta ter um excelente meio-campo se não existe alguém com técnica especial para converter em gols jogadas de criação. Aliás, um jogador excepcional, provavelmente um dos melhores do mundo. Müller é o menino do time alemão. Um jogador que, com a Copa, penso, ascenderá. Parece um atacante brasileiro: ousado, rápido e inteligente. Messi está sendo importantíssimo para Maradona: é, de maneira geral, perigosíssimo, porque se movimenta muito rapidamente, alterna posição, toca rápido, chuta muito bem, é velocista e, o pior, consegue impressionantemente executar tudo isso em espaço curtíssimo de campo e de tempo. Só é jogador clubista, como dizem, porque, na seleção, recebe marcação dura quase que o tempo inteiro, ou está de mau humor. Saber lidar com a marcação, entretanto, não tem sido um problema, porque isso beneficia Higuaín, que sabe se posicionar na área, e, geralmente, em função dos jogadores que Messi arrasta consigo, consegue estar livre. Higuaín tem sido o típico centroavante finalizador. Não é nada mais do que isso. Assim como Luis Fabiano e Luis Suarez, que só precisam marcar gols. A diferença entre os dois, ou melhor, os três, considerando, também, o argentino, é que o brasileiro é ligeiramente mais esperto e experiente, sem falar nos companheiros que o servem, afinal centroavante é, como já disse, uma função que depende de todo o restante do time, necessitando, apenas, estar no lugar certo. Colocaria Nilmar nesse elenco, mas a culpa de ele não estar é do Dunga, que lhe dá poucas oportunidades e, quando o coloca em campo, o faz diante de muralhas complicadas, como foi a portuguesa. Mesmo assim, quase marcou. Robben, o holandês, é bom também, mas sua função tem sido ofuscada pelo brilho de nomes como Villa e Müller, que propõem-se a fazer praticamente a mesma coisa, com ligeira vantagem, em termos dinâmicos, para Müller. Meu time: Júlio César (Eduardo); Sergio Ramos (Maicon), Juan (Ricardo Carvalho), Piqué (Lúcio) e Morel Rodriguez; Schweinsteiger (Gilberto Silva), Ramires (Toure), Xavi (Donovan) e Özil (Sneijder); Messi (Müller) e Villa (Higuaín).

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