segunda-feira, 18 de abril de 2011

Petrobrás, "iconomia", política, educação e atualidade

Foi publicada uma pesquisa que colocou a Petrobrás entre as empresas com maior arrecadação em todo o planeta. Em 2010, foram mais de 20 bilhões de lucro líquido - um número admirável ao pensamento capitalístico. Decorrem disso algumas reflexões que por ora compartilho.

Cada vez mais saúdo os oito anos de governo lulista pela explicitação já muito explícita, mas arredia à explicitação, do capitalismo como fundamento de toda ordem e desordem política e politiqueira, muito embora tenha imperado, nesse tempo, um discurso "de muro", do tipo: "não é só isso, afinal, como todos podem ver, as pesquisas e índices mostram blá-blá-blás". Aqui o leitor provavelmente inferirá que sou um crítico do governo Lula. Logo, me colocará à direita. Errado. Independente do marajá no topo, há um sistema muito complexo, há muito consolidado e há muito rutilante, pelo qual qualquer ordem necessariamente será descortinada. É sobre esse sistema que minha crítica volta-se, o que não atenua uma crítica às ações da ordem das lideranças políticas em relação a uma mais conveniente ou incoveniente posição mediante o sistema.

O discurso lulista, por exemplo, mediante esse sistema, cuja excelência não é menos ou mais que capitalística, quis ênfase num programa de aceleração econômica do país. Nesse programa, vi ser ostentado, entre muitos ícones, o talvez mais simbólico: a Petrobrás, motivo para o brasileiro orgulhar-se em termos de projeção econômica. O brasileiro quer orgulhar-se, de alguma forma, por seu país, e o país, ou melhor, aqueles que lideram politicamente o país, querem dar ao povo algo que pareça inquestionavelmente motivo de orgulho. Mas, tirando as aparências, isso não é possível.

Não parece ininteligível que, mesmo com um lucro líquido que esteve entre os maiores do mundo no ano que passou, o valor dos combustíveis no país só aumente? Não, não parece. Esse aumento aparentemente desenfreável dos valores cobrados para a aquisição de bens de consumo, como os combustíveis, baseia-se num argumento estatisticamente brilhante: se o bolso do brasileiro, em geral, está se alargando, como os índices estão "despej-inform-ando" pela televisão, a indústria pode cobrar e ganhar mais, bastando apenas certo comedimento, para não provocar colapso. O que temos, então, senhoras e senhores, parece ser tão somente uma política de comedimento anticolapso. O truque discursivo é este: "Que diferença farão cinco ou dez reais no bolso se, a cada ano, os inquestionáveis índices mostram que o brasileiro embolsa quinze ou vinte reais a mais?" Acho isso brilhante. "Todos, assim, crescem, não é?", é a conclusão. Deve ser mesmo a conclusão, porque grande parte do Conselho "Iconômico" da Petrobrás é composto por politiqueiros. Desses 20 bilhões, não tenha dúvida que uma grande soma adiciona bem mais que quinze ou vinte reais aos polpudos bolsos desses politiqueiros-conselheiros e dos politiqueiros-legisladores que ficam lambendo a Petrobrás em troca de carinho. É lindo ver pessoas se empanturrando com uma grana literalmente federal enquanto a maioria - a imensa maioria - paga, paga, paga, paga e se orgulha de pagar.

Uma coisa parece mais que clara, e é bom se acostumar daqui pra frente: os preços não vão baixar. Os combustíveis ficaram mais caros - isso é fato. Os brasileiros estão com mais dinheiro - isso foi tornado fato. A Petrobrás, que arrecadou 20 bilhões, o que é fato, quer, neste ano, 40 bilhões, que possivelmente será fato. Tudo, pois, continuará crescendo, independente da medida. O fato é tudo crescer, e, daí, continuar alimentando o orgulho - até o colapso.

Minha conclusão é que o capitalismo não consegue alcançar um antídoto para colapsos; no mais otimista dos casos, ele apenas os divide em estúpidas prestações. A educação, sim, parece a chave. Mas você acredita que, diante desse pequeniníssimo pedaço de quadro, a educação será algo além de um trágico ato heroico? Sinceramente, não sei como argumentar sobre essa questão sem nenhuma utopia.



3 comentários:

  1. Interessante texto, Felten. Embora realmente haja oportunismo no aumento da gasolina não se pode esquecer que boa parte deve-se a (1) o aumento do álcool que faz parte da gasolina (2) a Petrobrás segue o preço internacional do petróleo, caso não o fizesse poderia colocar preços utópicos como os da Venezuela e então teríamos o preço da gasolina incluído nas críticas sobre as medidas populistas do Governo.

    Outros dois pontos:

    (1) "Os brasileiros estão com mais dinheiro - isso foi tornado fato". Se minha interpretação está correta você quis dizer que não é realmente fato apenas foi tornado, aparentemente, fato.
    Tendo várias pessoas que conheço como exemplo, eu incluso, a renda e o poder de compra realmente aumentaram bastante de 2002 para cá. Certamente isto não se deve, exclusivamente, a governo algum, o cenário internacional favorável também contribuiu.

    (2) Sobre a educação, há muito que melhorar, certamente. Estamos muito longe da metade do que seria o ideal. Mas os investimentos em educação aumentaram muito também nos últimos anos. Segundo o discurso realizado aqui na UFSM pelo Ministro da Educação, Fernando Haddad, o orçamento federal para educação passou de cerca de 20 bilhões de reais em 2002 para 40 bilhões em 2009 e com previsão de 60 bilhões para 2011. Estando eu dentro de uma universidade federal desde 2005 pude ver este crescimento in loco, hoje existem muito mais recursos para novos professores, novos cursos, novos prédios, equipamentos, muitos frutos do Reuni, além da maior quantidade de recursos para editais do CNPq. E, acredite, eu teria alguns quilos de crítica sobre vários destes itens e sobre como os recursos são aplicados, mas é melhor haver recursos para isto do que não haver nem isso e nem a vontade política para que haja.

    Um leitor poderá achar que sou blogueiro de esquerda. Mas a coisa é, como bem disseste, muito mais complexa.

    Há muito o que precisa ser feito para que o Brasil chegue até a utópica linha do horizonte. O ideal é não pararmos de caminhar.

    -J

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  2. Lendário, Josué! Temos que combinar alguma coisa!

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  3. Lendário, Felten ! Temos que combinar sim. Já estão morando em Santa Cruz ? A minha vida segue uma correria louca e a minha namorada está na época de estágios. Assim, acho que poderíamos marcar para um final de semana em Junho ou Julho pois aí facilita a logística. ;-)

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