sexta-feira, 5 de março de 2010

The Walking Dead a caminho das telas



Quando criança era um grande fã de filmes de horror. Assisti inumeráveis produções, desde os filmes trash dos anos 70 e 80, o gore dos anos 80 e os tão imitados slasher movies, cuja mania iniciou provavelmente com O massacre da serra elétrica (The Texas chainsaw massacre, 1974), dirigido por Tobe Hooper, mas acabou consolidando uma fórmula com Halloween (Haloween, 1978), de John Carpenter, talvez o mais bem-sucedido exemplo desse subgênero do horror, embora os mais conhecidos sejam, talvez, Sexta-feira 13 (Friday the 13th, 1980), de Sean Cunningham, e A hora do pesadelo (A nightmare on Elm street, 1984), de Wes Craven. Embora todos esses filmes tenham gerado sagas, com vários capítulos cada um, nenhuma continuação jamais superou o filme original. Creio que é verdadeiramente difícil conseguir elaborar personagens como Jason Voorhees, Freddy Kruger, Michael Myers e Leatherface além daquilo que já foi apresentado num primeiro momento. Sabedores disso, ou não, produtores buscam apenas repetir a narrativa original. Quando tentam um fôlego novo, alterando o enfoque ou buscando revelar as origens desses personagens - ou levando-os a um enfrentamento -, tudo o que conseguem é ir de encontro ao que os filmes originais se proporam: um entretenimento baseado num jogo descompromissado e inverossímel com o medo e a morbidez do espectador. No fim das contas, o que antes era uma diversão amedrontadora (desde que o espectador se dispussese ao pacto do gênero) passa a ser ridículo.

Entretanto, embora tenhamos vários grandes exemplos ao longo da história do cinema envolvendo o gênero terror, ou os aspectos do terror, entre eles os clássicos do expressionismo alemão, o disseminador dessa cultura do absurdo que se oferece para um pacto de entretenimento baseado em algo aterrorizante provavelmente seja George Andrew Romero, que em 1968 dirigiu A noite dos mortos-vivos (Night of the living dead, 1968), um clássico do cinema do horror - muito embora o horror, nessa produção, tenha recebido um tratamento subjetivo e intimista, com raros momentos de visualização de barbáries. Mas esse não é o assunto que quero tratar aqui. George A. Romero é um cineasta tão competente em sua proposta que merecerá uma postagem só para ele, em breve.

Fiz todo esse preâmbulo para falar sobre a produção de The walking dead, que recebeu sinal verde da AMC, produtora britânica de seriados televisivos, e que terá como diretor e roteirista-piloto o francês Frank Darabont, um admirador inveterado do gênero horror, responsável pelo bom filme O nevoeiro (The mist, 2007), adaptação de um conto de Stephen King, e pelos roteiros dos trashes A bolha assassina (The blob, 1988), dirigido pelo seu amigo Chuck Russell, e A mosca II (The fly II, 1989), de Chris Walas. Sobre esse último cabe salientar que o filme original, A mosca (The fly, 1986), é apenas um sutil flerte com o trash. Trata-se de uma das melhores ficções científicas dos anos 80, dirigido pelo canadense David Cronenberg.

Numa época em que bons filmes de horror são cada vez mais escassos, resumindo-se a histórias ridículas e sem nenhum respeito a suas fontes, The walking dead, cuja produção ainda não foi iniciada, promete agradar aos fãs, especialmente os que cultuam diretores como George A. Romero, o criador dos conceitos modernos que regem o universo dos zumbis e um quase neo-realista fantástico. The walking dead será baseada numa das mais celebradas minisséries em quadrinhos dos últimos tempos, criada por Robert Kirkman. No Brasil a minissérie pode ser encontrada com o título Os mortos-vivos, distribuída pela HQManiacs. Ainda não tive a oportunidade de contato com os quadrinhos. Aliás, redigi um pedido à editora há meses e até hoje aguardo resposta.

Na trama, Rick Grimes é um policial que lidera um grupo de sobreviventes de um holocausto zumbi. As histórias devem enfocar o cotidiano desse grupo e sua luta pela sobrevivência e pelo triunfo da sensatez mediante uma nova realidade que se apresenta desafiando a sanidade. Darabont promete fidelidade à obra de Kirkman, que se confessa um adorador de Romero. Imagino histórias mais ou menos ao estilo de Extermínio (28 days later, 2002), de Danny Boyle, e Despertar dos mortos (Dawn of the dead, 1978), de George A. Romero, para mais ou para menos. De qualquer forma, acredito na capacidade de Darabont para criar uma atmosfera densa, caótica e apavorante. O fato de decidirem pelo formato de uma minissérie - pelo menos é o que dizem - já é uma notícia no mínimo interessante. Resta torcer e esperar, com muuuuuuita paciência até que uma feliz alma brasileira decida lançar por aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário