segunda-feira, 17 de maio de 2010

Inter(nacional)



Torcedor do Sport Club Internacional, de Porto Alegre, que sou, não poderia deixar de comentar a atual equipe. Espero que torcedores de outros clubes brasileiros não deixem de ler simplesmente porque o texto se anuncia como referente a um clube de futebol que não lhes interessa. Minha intenção é realizar, direta ou indiretamente, uma reflexão sobre futebol - como já fiz anteriormente, tomando como mote a convocação à Copa do Mundo 2010.

Torço para o Internacional porque, quando pequeno, era o clube que me insuflava maior empolgação no futebol. Não em função de resultados, mas porque havia uma aura que o colorado evocava que ia ao encontro de meu imaginário. Difícil dizer do que se trata essa aura, mas acredito que ela era mais vibrante do que a do clube da Azenha. Não comecei a torcer porque seguidor de pessoas próximas - família, amigos, vizinhos, etc. -, mas por escolha própria, conforme esses aspectos que já falei, entre outros.

Atualmente só consigo encontrar uma maneira de definir o time do Internacional: uma confusão em que faltam algumas coisas essenciais para organizá-lo corretamente. Acho que um clube de futebol, antes de qualquer coisa, é uma estrutura, interna e externa. Nesses dois quesitos o Internacional tem sido, digamos, estranho. A primeira estrutura, a interna, que é fundamental, todos achavam que seria perfeitamente administrada porque o clube conta com um dos dirigentes mais competentes do futebol brasileiro: Fernando Carvalho, cujo conhecimento futebolístico é reconhecido. A estrutura interna precisa ser, dia a dia, administrada. Alguma coisa aconteceu, e ainda não vazou à mídia, que provocou certa desestabilização. Talvez tenham sido as eleições vindouras, ou talvez alguma política mal elaborada. O que aconteceu é que, neste ano de 2010, as mal acabadas ou malfadadas políticas administrativas tiveram repercussão no time - e isso é muito ruim, porque tem a ver com políticas de planejamento. Essas, por sua vez, dependem de competência gerencial. Ora, se Fernando Carvalho é, a meu ver, extremamente capaz de exercer essa função com sucesso - porque já fizera isso outrora - e se é justamente ele o vice-presidente de futebol, ou seja, o sujeito disposto a pensar tudo o que esteja relacionado ao futebol, tudo indica que algo muito sério aconteceu de 2009 para cá.

A segunda estrutura, a externa, tem a ver com uma série de aspectos. Um clube de futebol não é somente responsável por elaborar uma equipe competitiva e dar a ela condições de competir com sucesso, mas também administrar a cultura de seus torcedores pelo futebol. Se o clube fracassa, há consequências: revolta, críticas, faturamento prejudicado e até violência, para os mais exaltados. E a frustração, talvez a pior de todas as coisas. De certa forma, um clube é responsável por fazer um sujeito torcer - ou não -, por ele, e isso implica produzir alegria e satisfação.

Administrar um clube de futebol não é tarefa simples. Um clube depende de políticas e de investimentos, bem como profissionais competentes e responsáveis. Entretanto, o que chega ao torcedor é apenas o futebol, ou, os resultados. Como já disse, o futebol clubísticos brasileiro parece ter se tornado muito mais uma válvula para a negação de nosso complexo de vira-lata do que uma prática desportiva para o entretenimento. Para muitos, é também um meio de ganhar muito dinheiro. Muito.

Há muitas coisas que fazem parte da administração de um clube de futebol, mas vou ir direto ao ponto: o time propriamente dito. Muitos colorados comentam com depreciação a contratação e principalmente a manutenção do técnico Jorge Fossati, uruguaio. Não acho que seja o maior problema, como não achava quando Tite treinava o clube em 2009. O problema maior é a convergência de uma série de pequenos problemas internos. Entretanto, também não acredito que ele seja um técnico capaz de formar uma equipe com eficiência. Não aqui. Fossati ganhou certo renome na LDU, do Equador, e até os gremistas queriam contar com suas habilidades de orientação. Sua maneira de montar o time deu certo, momentaneamente, lá, mas aqui é diferente, e acho que ele ainda não entendeu muito bem - e talvez não vá entender, orgulhoso que é.

Um dos pequenos problemas tem a ver com o já referido planejamento. Em primeiro lugar, como explicar a contratação de nomes tão caros para uma mesma função? Falo de Alecsandro, Edu e Kléber Pereira, todos atuando como centroavantes e ganhando rios de dinheiro todo o mês. Sem falar em Walter, prata da casa. Há apenas um atacante que vem sendo utilizado por Fossati: Taison, em fase mais de baixos do que de altos. Walter tem algumas características de atacante, mas seu forte é a jogada pelo centro, objetiva, típica de um centroavante dado a recuos. Taison, por sinal, apresenta um mesmo problema que alguns outros, especialmente D'Alessandro, Bolívar e Índio: o emocional. São jogadores que, se tiverem marcado um fim de semana de fechar cabaret, pensam mais com a cabeça de baixo. O certo seria eliminar esses jogadores, principalmente Índio e Taison. Esse último deveria ser emprestado, para pelo menos ver que em um outro clube ele não teria dirigentes de todos os lados lambendo-o e passando a mão sobre seu mau humor corriqueiro. Esses garotos precisam ter alguém que lhes esclareça que não é o aumento do salário e/ou a badalação que fazem de alguém um craque. Não me refiro a Walter. Esse mereceria investimento, mas a leitura de seu futebol que Fossati realiza é um tanto quanto sortuda.

Uma equipe de futebol é de igual maneira tecnicamente complicada de ser gerida. O aspecto mais fundamental talvez esteja relacionado com a preparação física. Uma comissão técnica precisa ser capaz de fazer com que os jogadores mantenham uma determinada eficácia no desempenho de seu futebol durante o máximo de tempo possível dentro dos noventa minutos de uma partida. Guiñazu, por exemplo, mantém, com maior ou menor sorte, um mesmo estilo de futebol durante toda a partida. O mesmo vale para Sandro e, agora, Tinga. Talvez Alecsandro também, mas seu futebol, para acontecer, depende de outros jogadores, porque sua função tática é fixa, ou, compreende um espaço estreito de campo. Seu futebol é de posicionamento.

Depois da preparação física é necessário um comportamento tático básico. Como defender pelos lados, pelo meio, pelo alto, em contra-ataques, em bolas paradas, quando avança um terceiro ou quarto homem? Como construir jogadas pelos lados, pelo meio, pelo alto? Como administrar o meio de campo? Como atacar? Enfim, são muitas as noções básicas de comportamento que um time precisa elaborar conforme o grupo à disposição, e isso depende diretamente do técnico e de sua comissão. Pior: a tática, durante as competições, precisa ser específica e, ao mesmo tempo, manter um padrão. Para isso é preciso estudar os adversários, buscando formas de neutralizar seus principais métodos ou maneiras de defender e atacar. Em todo o caso, uma equipe precisa de uma cara peculiar - e isso falta ao Internacional.

Em meio a tudo isso existe o emocional. Um jogador pode ter preparo físico monumental e estar taticamente ciente de todas as suas funções e das funções dos demais jogadores, mas se internamente estiver abalado por alguma questão ou acordou apático, tudo pode ir por água abaixo. Claro que esses aspectos podem mudar no decorrer de uma partida - para o bem ou para o mal -, e é isso que faz com o que o futebol tenha uma infinidade de possibilidades, mais talvez do que qualquer outro esporte.

Ainda não sabemos qual é a força máxima do Internacional - e nem Jorge Fossati ou Fernando Carvalho devem saber. Na minha opinião, estão vivendo de achismos, o que é péssimo no futebol. Para consertar certos equívocos, sugeriria a dispensa de Índio, o empréstimo de Taison, uma conversa definitiva com D'Alessandro e Bolívar e a contratação de, pelo menos, um atacante de velocidade. Manteria Jorge Fossati - caso ele não fosse eliminado da Libertadores - por uma ou duas partidas, após essas ações, para ver o efeito sobre o time. Ah, e pensaria desde já num substituto à altura de Sandro - que estará indo para o Tottenham, da Inglaterra, ao final da Libertadores . Seria um (re)começo, penso.

Vejamos o que nos aguarda o ano de 2010. Aguardem mais textos, colorados ou não!

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