segunda-feira, 31 de maio de 2010

Gonzaguinha: imagem e feminilidade da vida



Luiz Gonzaga Júnior, ou, Gonzaguinha, é, para muitos, simplesmente, o herdeiro do renomado cantor e compositor nordestino Luiz Gonzaga, criador de expressivos ritmos da musicalidade brasileira, especialmente o baião, e um dos mais representativos músicos do nordestão brasileiro. Entretanto, há uma diferença muito grande entre a carreira musical do pai e do filho, e mesmo quando Gonzaguinha cantava "Asa branca", o sucesso talvez mais popularmente conhecido de seu pai, quase sempre o fazia através de um arranjo inovador.


Nascido em 1945, no Rio de Janeiro, Gonzaguinha engrenou, de fato, uma carreira musical, a partir de 1973, em pleno período de maior repressão da ditadura militar. Antes, porém, já havia sinalizado talento quando participou do M.A.U., o Movimento Artístico Universitário, ao lado de nomes como Ivan Lins e Aldir Blanc. Em 73, ao inscrever a canção "Comportamento geral" em um concurso de um programa de rádio, contagiou os ouvintes. Seu primeiro disco, lançado naquele ano, que estava encalhado nas lojas, esgotou, e o fulminante sucesso rendeu, da Rádio Tamoio, um convite para a gravação de um segundo disco, com o mesmo nome do primeiro, Luiz Gonzaga Júnior, realizado em 74. Desde então seus trabalhos obtiveram enorme repercussão, embora tenha sido indevidamente reconhecido, num primeiro momento, como o "compositor do rancor".



A alcunha deve-se, provavelmente, à experiência que Gonzaguinha teve no morro de São Carlos, ou Estácio, no Rio de Janeiro, onde viveu parte de sua infância. Órfão de mãe aos dois anos de idade, Gonzaguinha foi criado pelos padrinhos, Dina e Xavier, já que Gonzagão, o pai, permanecia quase o ano inteiro viajando e cumprindo com sua ininterrupta agenda de shows - até em Santa Cruz do Sul o músico se apresentou. Foi através do padrinho, baiano, que o menino afeiçoou-se ao violão. A experiência na periferia Gonzaguinha transformou em várias letras, entre elas "Com a perna no mundo", estando em contato com o que se convencionou chamar de "submundo" e despertando, a partir disso, uma consciência social eventualmente de caráter mais contundente.

"Acreditava na vida
Na alegria de ser
Nas coisas do coração
Nas mãos um muito fazer
Sentava bem lá no alto
Pivete olhando a cidade
Sentindo o cheiro do asfalto
Desceu por necessidade
Ô Dina
Teu menino desceu o São Carlos
Pegou um sonho e partiu
Pensava que era um guerreiro
Com terras e gentes a conquistar
Havia um fogo em seus olhos
Um fogo de não se apagar

Diz lá pra Dina que eu volto
Que seu guri não fugiu
Só quis saber como é
Qual é
Perna no mundo sumiu

E hoje
Depois de tantas batalhas
A lama dos sapatos
É a medalha
Que ele tem pra mostrar
Passado
É um pé no chão e um sabiá
Presente
É a porta aberta
E futuro é o que virá
Mas, e daí

Ô Ô E E Á
O moleque acabou de chegar
Ô Ô E E Á
Nessa cama é que eu quero sonhar

Ô Ô E E Á
Amanhã boto a perna no mundo
Ô Ô E E Á
É que o mundo é que é o meu lugar".



Ou "Fotografia", sobre o lugar em que cresceu.

"Veja a cara dele sorrindo
veja a cara dele sorrindo atrás do muro
Agora ele pode sorrir pois o medo passou
Já está bem mais calmo seu coração
Ao invés do barulho do medo no ouvido
Ele ouve o ruído do vidro das bolas de gude
Agora ele pode brincar o jogo das bolas de gude
menino de novo
Veja na cara do outro, a tensão
Na cara do outro a atenção no que vem
Aquele olho de lado prestando atenção, vem alguém
O exterminador, o torturador
O anjo d'amor, o anjo da dor
Ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô
Veja a cara daquele mais ruim
A cara de espanto daquele mais um com o
trinta e oito na mão
Veja a fumaça saindo do cano
O corpo de um outro menino caído no chão
Veja o gude largado no chão
Ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô".



Entretanto, muito mais que compositor do rancor, Gonzaguinha é o cantor da celebração. Sua poesia, simples mas não simplória, é quase uma reverência a um impulso de vida que pode renovar as agruras existenciais através de gestos de gentileza e, por isso, de libertação, bem como engendra um olhar que, amadurecido, volta-se consternado ao passado e, já repleto da chamada "sabedoria de rua", quer, de certa forma, estabelecer um convite à renovação. Na verdade, seu amor à vida não tem espaço para a manifestação do rancor, mas, mais sublime, quer, numa disposição irrefreável, subliminar o que está negativizadamente à volta, mesmo que, para tanto, seja necessário desvelar o que vai de encontro a essa disposição, quase que em um movimento catártico. Sua maneira de se posicionar diante dos fatos é sempre enaltecida pelo carinho e pela solidariedade. Suas imagens, mesmo quando evocam eventos direta ou indiretamente trágicos, sempre estão resguardadas por elementos próprios de um imaginário infantil e/ou de uma beleza singela, impedindo que confluam a uma total negativização do instante, mas, ao contrário, permitindo que sejam, de alguma forma, suplantadas no sentido de serem aderidas à experiência existencial como algo passível de ser positivizado - desde que haja olhar para tanto.



Em 29 de abril de 1991 o cantor e compositor perdeu tragicamente a vida, aos 45 anos, em um acidente de trânsito, no Paraná. Um caminhão cortou a frente de seu Monza quando o músico dirigia-se para Foz do Iguaçu, onde tomaria um avião para Florianópolis, Santa Catarina, e realizaria seis shows. Lamentável perda. Uma vida, em pleno vigor e sucesso, ceifada drasticamente a caminho de realizar aquilo a que com mais vibração se dispunha: compartilhar o amor à vida através da canção.



Gonzaguinha tinha algo não muito comum na música brasileira: o canto completamente embevecido por um clamor amoroso de anima. E talvez não exista representante maior daquilo que Luiz Tatit, teórico brasileiro, chama de "persuasão passional", ou seja, a maneira de entoação das vogais, expandindo-as. Além disso, Gonzaguinha soube como poucos expressar uma disposição feminina de entrega, oposta, mas não em conflito, ao masculino, geralmente dominador. O verbo de sua música, sem dúvidas, é viver, e as imagens dessa vivenciação erguem-se no sentido de expressar júbilo para com essa disposição, seja através do corpo ou da alma. Há quem diga que ele teria sido um dos primeiros compositores a dar ao feminino uma voz de potencialidade tão significativa quando o masculino. Na verdade, ambos completam-se, e a afetividade que deflagam é sempre terna. A essência estará no elo, não no indivíduo - embora dependa do indivíduo.



Seus vinte discos expressam esta disposição de viver incondicionalmente celebrando o gesto e o caráter. Sua moral não é lição, mas experiência. Muito embora tenhamos perdido precocemente sua poderosa maneira de (en)cantar as coisas simples e amáveis da vida, Gonzaguinha certamente terá para sempre um lugar especial na história da música àqueles que, como disse, deixam a vida entrar, calorosamente, ou que, em parando de temer, chorar e sofrer, sorriem, se dão e, por isso, se perdem e se acham, e encontram tudo aquilo que é viver - a vida -, como se fosse o sol.

"Por um segundo

Por um segundo num sorriso teu
Fez-se festa infinita em minha vida
E a estrada longa inteira
Num giro da mente eu vi

Por um segundo em um beijo teu
Tive todo o universo em meu corpo
E eu fui dono das estrelas
Guardei no peito pra dois

Manso riacho
Nos levando
Abraço calmo e quente
Corrente aumentando
Mergulha sem fim

Por um segundo, um segundo só
Explodiu o nosso amor por sobre o mundo
E nós fomos só alegria
Depois o silêncio
E então morrer".


terça-feira, 25 de maio de 2010

Filme tailandês leva a Palma de Ouro

O longa-metragem Lung Boonmee raluek chat, dirigido por Apichatpong Weerasethakul, jovem cineasta tailandês, venceu a Palma de Ouro de melhor filme de 2009-2010 em Cannes. O júri, presidido por Tim Burton, decidiu dar o prêmio máximo do festival à produção fantástica tailandesa.



O diretor de nome complicado, e, por isso, conhecido como Joe, já é acostumado a Cannes, tendo sido premiado em todos os seus filmes anteriores - uma façanha. O enredo simples de Uncle Boonmee who can recall his past lives, ou, Tio Boonmee, o que consegue relembrar suas vidas passadas, conta a história do Tio Boonmee, que, doente, reúne amigos e conhecidos, vivos ou mortos, para compartilhar seus últimos dias de vida e suas existências anteriores. Ainda não assisti o filme, mas aguardarei ansioso. O trailer de divulgação dá bons sinais.

No mais, Javier Bardem ganhou o prêmio de melhor ator, por sua atuação em Biutiful, de Alejandro González Iñárritu, e Juliette Binoche venceu como melhor atriz, por Copie conforme, de Abbas Kiarostami. Como melhor roteiro venceu Lee Chang-dong, por Poetry, para o qual tenho uma boa intuição.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Oscar 2000-2005

A pedido do nosso leitor e amigo Jorge, elaborei uma lista com os ganhadores do Oscar de melhor filme de 2000 até 2005. Fiz também alguns comentários.

2000



Vencedor: Beleza americana (American beauty, 1999), dirigido por Sam Mendes, que também levou a estatueta de melhor diretor.

Trata-se mais de um novelão americano do que de um filme. Uma típica produção para que os americanos possam dormir um pouco mais em paz com a consciência, na medida em que o filme, em não sendo analítico, mas antianalítico, proporciona certa ilustração de sossego. Paradoxal, contudo. Lembremos que esta é a época de Bill Clinton e suas próprias spice girls.
O mais interessante seja talvez a homenagem - ou cópia descarada - a Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, através de seu defunto-narrador.

Concorreram com o filme: Regras da vida (The cider house rules, 1999), de Lasse Hallström; À espera de um milagre (The green mile, 1999), de Frank Darabont; O informante (The insider, 1999), de Michael Mann, e O sexto sentido (The sixth sense, 1999), de M. Night Shyamalan.

O melhor com certeza foi Tudo sobre minha mãe (Todo sobre mi madre, 1999), de Pedro Almodóvar, ganhador do prêmio de melhor filme estrangeiro. Muito superior a qualquer um presente nas principais disputas. Entre os que disputaram, talvez O informante, de Michael Mann.



2001



Vencedor: Gladiador (Gladiator, 2000), dirigido por Ridley Scott. Quem levou o prêmio de melhor diretor foi Steven Soderbergh, por Traffic (Traffic, 2000). Aliás, este parecia ser o ano de Soderbergh, que também fez sucesso com Erin Brockovich (Erin Brockovich, 2000), que deu o Oscar de melhor atriz para a bonitinha Julia Roberts.

Gladiador é superestimado. Uma fórmula épica retirada de produções consagradas, como Ben-Hur, de William Wyler, e Spartacus, de Stanley Kubrick, algumas modificações em termos de estrutura narrativa e... pronto. Injete mais de cem milhões e você tem um filme de época no limiar da badalação. Começava aí a parceria irritante de Ridley Scott e Russell Crowe, que venceu como melhor ator. Uma das piores parcerias que já vi, absolutamente insossa. Tudo que Scott consegue é produzir e firmar como gênero vagabundo um lugar-comum épico - e ser reconhecido como um dos maiores publicitários do cinemão americano. Detesto cinema de panfletagem, e por isso não vejo nada de bom nesse filminho de quinta categoria. Ou melhor, talvez o que reste nessa produção seja justamente a sinceridade com que Ridley Scott expõe seus panfletos. Interessante que Scott começou sua carreira com um bom filme: Os duelistas (The duelists, 1977), seu melhor trabalho até hoje.

Concorreram com o filme: Chocolate (Chocolate, 2000), de Lasse Hallström; O tigre e o dragão (Wo hu cang long, 2000), de Ang Lee; Erin Brockovich (Erin Brockovich, 2000), de Steven Soderbergh, e Traffic (Traffic, 2000), também de Steven Soderbergh.

De todos esses filmes gosto de O tigre e o dragão. Aliás, gosto muito do chinês Ang Lee, que naquele ano venceu na categoria filme estrangeiro. Em O tigre e o dragão Lee soube, à moda antiga, um tanto hitchcokiana, encher nossos olhos com beleza visual através de uma narrativa deliciosa. Um primor de filme no estilo fantástico de capa e espada.



2002



Vencedor: Uma mente brilhante (A beautiful mind, 2001), dirigido por Ron Howard, também premiado como melhor diretor.

Era tudo o que Ron Howard sempre quis: um Oscar. Trata-se de um cineasta-signo emblemático de Hollywood - o chamado "artesão" da indústria. Pseudoartesão, diga-se de passagem. Howard fez tudo o que a receita pedia para conquistar o badalado prêmio máximo da indústria americana - e com propriedade. Entretanto, o filme não passa de um dramalhão boboca com um argumento tão denso quanto um pires, já desvelado pelo espectador mais sagaz em seus dez minutos iniciais. Temos, portanto, míseros dez minutinhos de cinema. O resto é aquela mensagem há muito clichê sobre o sujeito com problemas mentais que consegue suplantar as adversidades sociais com absoluto sucesso, tornando-se quase mítico (vide Forrest Gump). Contudo, impossível negar que Howard manipula essa expectativa de argumento com mais habilidade que quase todos os outros cineastas americanos - e com homenagens ralinhas a outros diretores de seu agrado, como Samuel Fuller. Por isso ele sempre é chamado para esse tipo de produção - que, convenhamos, são chatas pra dedéu e nada têm a ver com o que pode essencialmente representar o Grande Cinema (vide Fellini, Antonioni, Bergman, Resnais, Kiarostami, Tarkovsky, Murnau, Visconti e tantos outros).

Concorreram com o filme: O senhor dos anéis: a Sociedade do Anel (The lord of the rings: the Fellowship of the Ring, 2001), de Peter Jackson; Assassinato em Gosford Park (Gosford Park, 2001), de Robert Altman; Entre quatro paredes (In the bedroom, 2001), de Todd Field, e Moulin Rouge (Moulin Rouge, 2001), de Baz Luhrmann.

De todos os filmes gostei muito de Terra de ninguém (No man's land, 2001), do diretor bósnio Danis Tanovic, que venceu como filme estrangeiro. Aliás, recomendo para quem ainda não assistiu. Um belíssimo filme. Também gostei de O fabuloso destino de Amelie Poulain (Le fabuleux destin d'Amelie Poulain), de Jean-Pierre Jeunet, e do já citado Assassinato em Gosford Park, que, diga-se de passagem, nada tem a ver com Agatha Christie, embora o nome brasileiro suponha um argumento a la Poirot, e dá um banho de crítica em relação a filmes como Beleza americana.



2003



Vencedor: Chicago (Chicago, 2002), dirigido por Rob Marshall. Na categoria melhor diretor venceu, merecidamente, Roman Polanski, por O pianista (The pianist, 2002).

Chicago não é um musical ruim. Na verdade, provavelmente seja o melhor musical tipicamente americano feito em anos - por isso foi escolhido vencedor. Entretanto, Marshall não é um cineasta. Trata-se de mais um protegido de Steven Spielberg - como já fora Sam Mendes. O fato de não ser cineasta de mão cheia talvez explique a perda da estatueta de melhor diretor, mas também não justifica sua predileção em detrimento de um mestre como Polanksi, embora O pianista não seja seu melhor trabalho. Contudo, O pianista talvez seja o filme sobre a Segunda Guerra Mundial mais brilhantemente pensado nos últimos tempos, tanto que recebeu a Palma de Ouro, em Cannes. Polanski faz um filme devidamente transparente. Sua estética em nenhum momento tenta evocar sentidos mais contudentes que as imagens em si, e isso foi genial, sobretudo em época em que filmes nesse estilo seguem um caminho absolutamente oposto, como A lista de Schindler e O resgate do soldado Ryan, ambos de Steven Spielberg, que não sabe narrar nada sobre a tenebrosa guerra sem o imediatismo da contundência, operado sempre com pretensão de vigor emocional. Polanski consegue, inesperadamente, fazer uma obra-prima, por isso desde já digo que era ele quem deveria ser premiado neste Oscar que tantas vezes consegue ser ridículo em sua proposta de agraciar os filmes que consideram como melhores trabalhos.



Concorreram com o filme: Gangues de Nova York (Gangs of New York, 2002), de Martin Scorsese; O senhor dos anéis: as duas torres (The lord of the rings: the two towers, 2002), de Peter Jackson; The hours (As horas, 2002), de Stephen Daldry, e O pianista (The pianist, 2002), de Roman Polanski.

Curiosidade: na categoria de melhor animação venceu A viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no kamikakushi, 2001), de Hayao Miyazaki, que conquistou o Urso de Ouro, em Berlim. Uma obra-prima indescritível. Talvez a melhor animação de todos os tempos, que mereceria ganhar tudo se o mundo fosse menos convencional. Esse sim, de maneira especial, superou qualquer filme feito naquele ano - porque é diferente de tudo o que já se pensou em termos de animação, bem como apresenta uma funcionalidade no que concerne à estética visual e narrativa da animação que é digna de figurar no topo da história do cinema animado. Ouso inclusive dizer que é o Cidadão Kane das animações. Extraordinário filme, que todas as crianças - e adultos - precisam assistir.



2004



Vencedor: O senhor dos anéis: o retorno do rei (The lord of the rings: the return of the king, 2003), dirigido por Peter Jackson, que abocanhou também o prêmio como melhor diretor.

Inexplicável premiação. O filme é, em linhas gerais, péssimo enquanto cinema, e nada, a meu ver, absolutamente nada, ou seja, argumento algum explicaria a sua vitória. Sem comentários.

Concorreram com o filme: Sobre meninos e lobos (Mystic river, 2003), de Clint Eastwood; Seabiscuit: alma de herói (Seabiscuit, 2003), de Gary Ross; Mestre dos mares: o lado mais distante do mundo (Master and commander: the far side of the world, 2003), de Peter Weir, e Encontros e desencontros (Lost in translation, 2003), de Sofia Coppola.

Ficaria sem dúvida nenhuma com As invasões bárbaras (Les invasions barbares, 2003), do canadense Denys Arcand, que venceu como filme estrangeiro. Entre os indicados, Sobre meninos e lobos é o meu favorito. Aliás, Sean Penn foi merecidamente premiado por sua atuação nesse filme.



2005



Vencedor: Menina de ouro (Million dollar baby, 2004), dirigido por Clint Eastwood, que também foi premiado como melhor diretor.

De todos os filmes americanos deste decênio, Menina de ouro seja talvez o melhor de todos, ao lado de Bastardos inglórios, de Quentin Tarantino. Teria que elaborar um texto enorme para falar de todas as qualidades dessa obra-prima do cinema mundial. Certamente o ano de 2005 foi o de maior justiça no Oscar em muito tempo. Se o objetivo é premiar produções internas, os Estados Unidos de fato escolheram o melhor filme de seu cinema naquele ano - e um dos melhores do mundo inteiro. Me limito a dizer que o discurso acerca da eutanásia ou do indivíduo que num primeiro momento suplanta as agruras existenciais para alcançar o sucesso - discursos esses enfatizados pela publicidade acerca da produção - são meramente secundários. Eastwood alcança o auge de sua poderosa metalinguagem para elaborar uma reflexão impressionantemente humana acerca de diversos aspectos existenciais e cinematográficos, sobretudo os que se vinculam à família, à personalidade e ao mundo, enegrecido e envelhecido, que constitui esses dois meandros do humano. Tudo isso através de proposições estéticas das mais geniais que se pode imaginar para elaborar questões banalizadas pelo cinema americano em geral e facilmente corrompíveis. Eastwood é um dos poucos cineastas hoje em dia que consegue erguer com propriedade um discurso tão somente reflexivo acerca da transversalidade das coisas - e o faz até mesmo quando sua abordagem agrega valores morais. E é isso que Menina de ouro executa com brilhantismo quase ímpar: uma discreta e imponente reflexão moral subjetiva sobre o transverso, sem pretensões, mas acolhedora, num sentido também transversal. Filme genial.



Concorreram com o filme: O aviador (The aviator, 2004), de Martin Scorsese; Sideways: entre umas e outras (Sideways, 2004), de Alexander Payne; O segredo de Vera Drake (Vera Drake, 2004), de Mike Leigh, e Ray (Ray, 2004), de Taylor Hackford.

Na categoria estrangeiro venceu Mar adentro (Mar adentro, 2004), um bom filme do diretor chileno Alejandro Amenábar, com excepcional atuação do ótimo Javier Bardem, um dos melhores atores de cinema da atualidade.



Aguardem os vencedores do Oscar nos anos 2006-2010 num próximo post. Não darei continuidade em função de que esta postagem já está enorme (!).

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Inter(nacional)



Torcedor do Sport Club Internacional, de Porto Alegre, que sou, não poderia deixar de comentar a atual equipe. Espero que torcedores de outros clubes brasileiros não deixem de ler simplesmente porque o texto se anuncia como referente a um clube de futebol que não lhes interessa. Minha intenção é realizar, direta ou indiretamente, uma reflexão sobre futebol - como já fiz anteriormente, tomando como mote a convocação à Copa do Mundo 2010.

Torço para o Internacional porque, quando pequeno, era o clube que me insuflava maior empolgação no futebol. Não em função de resultados, mas porque havia uma aura que o colorado evocava que ia ao encontro de meu imaginário. Difícil dizer do que se trata essa aura, mas acredito que ela era mais vibrante do que a do clube da Azenha. Não comecei a torcer porque seguidor de pessoas próximas - família, amigos, vizinhos, etc. -, mas por escolha própria, conforme esses aspectos que já falei, entre outros.

Atualmente só consigo encontrar uma maneira de definir o time do Internacional: uma confusão em que faltam algumas coisas essenciais para organizá-lo corretamente. Acho que um clube de futebol, antes de qualquer coisa, é uma estrutura, interna e externa. Nesses dois quesitos o Internacional tem sido, digamos, estranho. A primeira estrutura, a interna, que é fundamental, todos achavam que seria perfeitamente administrada porque o clube conta com um dos dirigentes mais competentes do futebol brasileiro: Fernando Carvalho, cujo conhecimento futebolístico é reconhecido. A estrutura interna precisa ser, dia a dia, administrada. Alguma coisa aconteceu, e ainda não vazou à mídia, que provocou certa desestabilização. Talvez tenham sido as eleições vindouras, ou talvez alguma política mal elaborada. O que aconteceu é que, neste ano de 2010, as mal acabadas ou malfadadas políticas administrativas tiveram repercussão no time - e isso é muito ruim, porque tem a ver com políticas de planejamento. Essas, por sua vez, dependem de competência gerencial. Ora, se Fernando Carvalho é, a meu ver, extremamente capaz de exercer essa função com sucesso - porque já fizera isso outrora - e se é justamente ele o vice-presidente de futebol, ou seja, o sujeito disposto a pensar tudo o que esteja relacionado ao futebol, tudo indica que algo muito sério aconteceu de 2009 para cá.

A segunda estrutura, a externa, tem a ver com uma série de aspectos. Um clube de futebol não é somente responsável por elaborar uma equipe competitiva e dar a ela condições de competir com sucesso, mas também administrar a cultura de seus torcedores pelo futebol. Se o clube fracassa, há consequências: revolta, críticas, faturamento prejudicado e até violência, para os mais exaltados. E a frustração, talvez a pior de todas as coisas. De certa forma, um clube é responsável por fazer um sujeito torcer - ou não -, por ele, e isso implica produzir alegria e satisfação.

Administrar um clube de futebol não é tarefa simples. Um clube depende de políticas e de investimentos, bem como profissionais competentes e responsáveis. Entretanto, o que chega ao torcedor é apenas o futebol, ou, os resultados. Como já disse, o futebol clubísticos brasileiro parece ter se tornado muito mais uma válvula para a negação de nosso complexo de vira-lata do que uma prática desportiva para o entretenimento. Para muitos, é também um meio de ganhar muito dinheiro. Muito.

Há muitas coisas que fazem parte da administração de um clube de futebol, mas vou ir direto ao ponto: o time propriamente dito. Muitos colorados comentam com depreciação a contratação e principalmente a manutenção do técnico Jorge Fossati, uruguaio. Não acho que seja o maior problema, como não achava quando Tite treinava o clube em 2009. O problema maior é a convergência de uma série de pequenos problemas internos. Entretanto, também não acredito que ele seja um técnico capaz de formar uma equipe com eficiência. Não aqui. Fossati ganhou certo renome na LDU, do Equador, e até os gremistas queriam contar com suas habilidades de orientação. Sua maneira de montar o time deu certo, momentaneamente, lá, mas aqui é diferente, e acho que ele ainda não entendeu muito bem - e talvez não vá entender, orgulhoso que é.

Um dos pequenos problemas tem a ver com o já referido planejamento. Em primeiro lugar, como explicar a contratação de nomes tão caros para uma mesma função? Falo de Alecsandro, Edu e Kléber Pereira, todos atuando como centroavantes e ganhando rios de dinheiro todo o mês. Sem falar em Walter, prata da casa. Há apenas um atacante que vem sendo utilizado por Fossati: Taison, em fase mais de baixos do que de altos. Walter tem algumas características de atacante, mas seu forte é a jogada pelo centro, objetiva, típica de um centroavante dado a recuos. Taison, por sinal, apresenta um mesmo problema que alguns outros, especialmente D'Alessandro, Bolívar e Índio: o emocional. São jogadores que, se tiverem marcado um fim de semana de fechar cabaret, pensam mais com a cabeça de baixo. O certo seria eliminar esses jogadores, principalmente Índio e Taison. Esse último deveria ser emprestado, para pelo menos ver que em um outro clube ele não teria dirigentes de todos os lados lambendo-o e passando a mão sobre seu mau humor corriqueiro. Esses garotos precisam ter alguém que lhes esclareça que não é o aumento do salário e/ou a badalação que fazem de alguém um craque. Não me refiro a Walter. Esse mereceria investimento, mas a leitura de seu futebol que Fossati realiza é um tanto quanto sortuda.

Uma equipe de futebol é de igual maneira tecnicamente complicada de ser gerida. O aspecto mais fundamental talvez esteja relacionado com a preparação física. Uma comissão técnica precisa ser capaz de fazer com que os jogadores mantenham uma determinada eficácia no desempenho de seu futebol durante o máximo de tempo possível dentro dos noventa minutos de uma partida. Guiñazu, por exemplo, mantém, com maior ou menor sorte, um mesmo estilo de futebol durante toda a partida. O mesmo vale para Sandro e, agora, Tinga. Talvez Alecsandro também, mas seu futebol, para acontecer, depende de outros jogadores, porque sua função tática é fixa, ou, compreende um espaço estreito de campo. Seu futebol é de posicionamento.

Depois da preparação física é necessário um comportamento tático básico. Como defender pelos lados, pelo meio, pelo alto, em contra-ataques, em bolas paradas, quando avança um terceiro ou quarto homem? Como construir jogadas pelos lados, pelo meio, pelo alto? Como administrar o meio de campo? Como atacar? Enfim, são muitas as noções básicas de comportamento que um time precisa elaborar conforme o grupo à disposição, e isso depende diretamente do técnico e de sua comissão. Pior: a tática, durante as competições, precisa ser específica e, ao mesmo tempo, manter um padrão. Para isso é preciso estudar os adversários, buscando formas de neutralizar seus principais métodos ou maneiras de defender e atacar. Em todo o caso, uma equipe precisa de uma cara peculiar - e isso falta ao Internacional.

Em meio a tudo isso existe o emocional. Um jogador pode ter preparo físico monumental e estar taticamente ciente de todas as suas funções e das funções dos demais jogadores, mas se internamente estiver abalado por alguma questão ou acordou apático, tudo pode ir por água abaixo. Claro que esses aspectos podem mudar no decorrer de uma partida - para o bem ou para o mal -, e é isso que faz com o que o futebol tenha uma infinidade de possibilidades, mais talvez do que qualquer outro esporte.

Ainda não sabemos qual é a força máxima do Internacional - e nem Jorge Fossati ou Fernando Carvalho devem saber. Na minha opinião, estão vivendo de achismos, o que é péssimo no futebol. Para consertar certos equívocos, sugeriria a dispensa de Índio, o empréstimo de Taison, uma conversa definitiva com D'Alessandro e Bolívar e a contratação de, pelo menos, um atacante de velocidade. Manteria Jorge Fossati - caso ele não fosse eliminado da Libertadores - por uma ou duas partidas, após essas ações, para ver o efeito sobre o time. Ah, e pensaria desde já num substituto à altura de Sandro - que estará indo para o Tottenham, da Inglaterra, ao final da Libertadores . Seria um (re)começo, penso.

Vejamos o que nos aguarda o ano de 2010. Aguardem mais textos, colorados ou não!

Uma fênix em Cannes?



Dia 12 de maio iniciou a sexagésima terceira edição do Festival de Cinema de Cannes, na França. O evento acontece até o dia 23, quando conheceremos a opinião do júri, encabeçado por Tim Burton, acerca dos melhores longas-metragens inscritos na competição pela Palma de Ouro, possivelmente o prêmio mais estimado do cinema mundial.

Essa edição já apresenta pelo menos um fato curioso e polêmico: o documentário I'm still here: the lost year of Joaquin Phoenix, dirigido por Casey Affleck e "estrelado" pelo ator porto-riquenho Joaquin Phoenix, conhecido pelos seus trabalhos em Gladiador (Gladiator, 2000), de Ridley Scott, Sinais (Signs, 2002), A vila (The village, 2004), ambos dirigidos pelo indiano Manaj Night Shyamalan, Johnny & June (Walk the line, 2005), de James Mangold, Os donos da noite (We own the night, 2007) e Amantes (Two lovers, 2008), esses dois últimos realizados de maneira brilhante por James Gray. Amantes, aliás, segundo declaração do próprio ator, foi seu último e definitivo filme. No início do ano passado, meados de 2009, o ator anunciou que estava deixando os cinemas para se dedicar à carreira musical, ou, a um curioso projeto musical envolvendo hip hop, gênero no qual, conforme dizem os próprios norte-americanos, criadores do estilo, o ator seria um desastre - completo.


Rumores indicam que o que estaria levando o ator a abandonar uma carreira promissora nos cinemas para se dedicar a um confuso e até ridículo projeto musical seria uma grave crise existencial e/ou depressiva.  Na verdade, tudo está confuso na vida de Joaquin Phoenix, como aponta seu polêmico documentário e a entrevista que deu, ano passado, ao David Letterman (procurem no YouTube). Na entrevista, o ator, monossilábico, parece estar visivelmente sob efeito de drogas ou remédios pesados, e sente-se incomodado com o tom jocoso do apresentador e com os risos da plateia. Phoenix, abatido e atordoado, não sabe nem que é - e confessa, ou não lembra-se, que seu último filme, Amantes, foi baseado em um texto de Dostoievski. Letterman, de quem eu pessoalmente não gosto, parece fazer questão de insistir num viés humorístico a fim de entreter sua plateia - e suas piadas não são ruins, mas impertinentes. Incomoda que em nenhum momento o apresentador tenha interesse em Joaquin Phoenix para além do humor midiático.


No documentário, que o ator levou a Cannes para talvez conseguir investidores interessados em distribuí-lo, especula-se sobre uma encenação de um grande ator ou se trata-se, de fato, de um registro de seu cotidiano. O ator aparece cheirando cocaína, maltratando colaboradores, entorpecido em perfomances vergonhosas, praticando sexo oral com uma publicitária ou assessora e completamente obscurecido por uma personalidade depressiva e violenta. Entretanto, o que talvez mais tenha chocado os espectadores em Cannes tenha sido uma cena em que um amigo defeca, isso mesmo, dá uma cagada, sobre o ator enquanto ele dorme, sem falar nas diversas cenas de nudez masculina. Ou Phoenix decidiu assumir seu lado pasoliniano e também encarnar uma performance brilhante, ou realmente está afundado em uma crise existencial. Uma pena.

Considero-o um dos melhores atores surgidos nos últimos tempos no cinema norte-americano, e acho sua costumeira parceria com o diretor James Gray uma das mais profícuas da história recente - como Kar Wai e Leung, Almodóvar e Cruz, Martel e Morán, etc.

Espero que Phoenix recobre a lucidez e a consciência a tempo do cinema continuar a tê-lo brilhante - e espero, embore duvide, que esse documentário seja seu retorno das cinzas.

No mais, dia 23 ou 24 escrevo sobre os resultados em Cannes. 

terça-feira, 11 de maio de 2010

E agora, Dunga?

Foi divulgada nesta terça-feira a mais aguardada convocação para formação da seleção brasileira de futebol, que irá atuar na Copa do Mundo, na África do Sul. A lista final deverá ser oficializada pela CBF até o dia 1º de junho.

Seguem os nomes convocados e alguns comentários.

GOLEIROS

Júlio César: esse é titular absoluto, talvez em qualquer seleção do planeta. Vi esse sujeito fazer defesas impressionantes, especialmente nas Eliminatórias. Teve um jogo, se não me falhe a memória contra o Equador, que ele pegou até susto dos atacantes. Acho que Júlio César é o melhor goleiro do mundo. Entretanto, para ser o melhor não basta ter um grande talento individual, afinal, como diz o ditado, "água mole em pedra dura tanto bate até que fura". É titular da Inter, de Milão.

Gomes: aparentemente chamado para ser o segundo goleiro, ou, o reserva imediato de Júlio César. Convocação, a meu ver, questionável, na medida em que Victor, do Grêmio, vive uma fase realmente incomum. Não sei da atual performance do Gomes no Tottenham, da Inglaterra, mas eu teria levado o Victor para justamente aproveitar essa impressionante fase de confiança que o goleiro gremista vive. Gomes está indo porque fazia parte daquele timaço do Cruzeiro de 2003, que ganhou quase tudo, e, a partir de então, passou a ter cadeira cativa na seleção.

Doni: ou ele ou Gomes será o terceiro goleiro, que tem rara chance de jogar um jogo da Copa, salvo sob uma eventualidade quase bizarra. Bem, o que dizer do terceiro goleiro reserva? Tirar a titularidade do Júlio César ele não vai, a não ser que ocorra lesão. Pode ocorrer disputa com o reserva imediato. Doni é um bom goleiro, atua no Roma, já jogou no Juventude, de Caxias. Talvez fosse alguém que eu levaria.

Minha provável lista: Júlio César, Victor e Doni.

ZAGUEIROS

Lúcio: titular absoluto e, ainda, capitão. Acho que um dos melhores zagueiros do mundo. Se o Brasil tivesse mais um Lúcio eu diria: agora sim temos uma verdadeira parede na defesa.

Juan: deve ser o titular ao lado do Lúcio. Bom zagueiro, muito discreto e geralmente eficiente, mas andou sofrendo lesões e não sei como está seu rendimento após as recuperações. Joga no Roma.

Luisão: outro cadeira cativa na seleção que também participou daquele timaço do Cruzeiro. Acho que é um zagueiro muito pesado, cuja maior virtude parece ser a altura. Eu não levaria. Um jogador que me chamou a atenção foi o William, ex-Corinthians, que jogou no Grêmio e hoje atua na Turquia, se não estou enganado. Ele também é pesado, mas mais eficiente que o Luisão, que atua pelo Benfica, de Portugal. Seria uma convocação inédita.

Thiago Silva: bom zagueiro, jogava no São Paulo, hoje atua pelo Milan. Esse é um jogador que talvez valha a pena apostar. Acho que o Lúcio e o Juan já são zagueiros veteranos, e titulares. Então, nada mais justo que tentar dar uma renovada nos reservas imediatos. Luisão, portanto, a meu ver, não é aposta, é reiteração de cadeira cativa.

Minha provável lista: Lúcio, Juan, Thiago Silva e William.

LATERAIS

Maicon: titular absoluto, pela direita, pela fase empolgante que vive na Inter, de Milão. Ótimo jogador, que aprimorou seu futebol depois que foi transferido para a Europa, o que é raro. Não vejo outro jogador atualmente com maiores méritos que ele para ocupar este setor do campo.

Daniel Alves: reserva imediato de Maicon? Acho difícil. Aqui Dunga tem a possibilidade de utilizá-lo no meio-campo, ou talvez até na esquerda. Para mim, excepcional jogador, muito flexível, guerreiro e eclético. Quase um Guiñazu. E tem uma ofensividade muito regular. Atua pelo Barcelona.

Gilberto: lateral esquerdo, bom jogador. Atualmente joga como meia, no Cruzeiro. Gilberto é muito inteligente, versátil, e acho um bom adendo à seleção. O lado esquerdo não tem nenhum titular absoluto, então qualquer nome seria uma aposta.

Michel Bastos: Dunga tinha que, de um jeito ou de outro, fazer apostas. Em uma delas escolheu Michel Bastos, para ser reserva de Gilberto. Acho discreto demais para ser convocado a uma Copa do Mundo, a não ser pelo chute, um dos mais potentes do atual futebol mundial. Graças a isso Michel Bastos costuma fazer muitos gols, o que não é muito comum para um lateral. Atua pelo Lyon. Não sei o que dizer sobre os laterais. Têm aqueles que jogavam no Goiás, o Vitor (direito, hoje no Palmeiras) e o Júlio César (esquerdo, hoje no Fluminense), que nunca receberam uma chance. E o André Santos, que jogou no Corinthians mas hoje parece ter virado sócio de um cabaret. Difícil decidir.

Teria levado: Maicon, Daniel Alves e Gilberto. A quarta vaga não saberia dizer.

MEIO-CAMPO

Gilberto Silva: outra reiteração de cadeira cativa. Um jogador que eu não levaria, mas o Dunga confia nele - e deve ter suas razões, afinal foi na posição de volante que ele atuou (mais precisamente segundo volante). Entretanto, realmente está difícil pensar em um volante de contenção, ou, primeiro volante. Nomes surgem às dezenas. Realmente muito difícil, mas Gilberto Silva não seria minha escolha. Atua pelo Panathinaikos, da Grécia.

Felipe Melo: alguma coisa ele deve ter que agrada ao Dunga. Não sei se levaria esse jogador, que faz a mesma função que o Dunga fazia, com uma dinâmica um pouco mais efetiva em termos de construções de ligação. Eu, aqui, faria uma aposta: Cristian, ex-Corinthians, hoje na Turquia. Jogou muito na Copa do Brasil do ano passado, e lembrava a mesma fibra e devoção do Guiñazu, do Internacional. Felipe Melo atua na Juventus, da Itália.

Ramires: esse sim, titular. Jogador de múltiplas funções no meio-campo, mais ofensivo que defensivo, mas disposto a esquemas de marcação adiantada. Se o Brasil quiser ir longe na Copa precisa de um meio-campo avançado - e Ramires é titular nessa disposição. Atua pelo Benfica.

Elano: nome muito questionável, de uma regularidade dispersa na seleção. Mas é cadeira cativa do Dunga, com brilho incerto demais para as pretensões de um hexa. Levaria, para a função que ele exerce, Hernanes, do São Paulo. Elano joga no Galatasaray, da Turquia.

Josué: convocação incompreensível. Sem palavras. Atua pelo Wolfsburg, da Alemanha. Não pode ser que, na visão futebolística do Dunga, não exista, atualmente, nenhum outro jogador capaz de exercer a função destinada a Josué com maior competência. Por que não o Hernanes? Muito mais essencial para o São Paulo do que o Josué é para o Wolfsburg.

Kaká: joga no Milan e deve ser titular. Não atravessa uma fase muito brilhante, mas já atravessou e tem uma característica que pode aparecer e fazer a diferença: a velocidade. Kaká é um jogador que precisa de espaço. Então, depende mais da postura defensiva adversária do que de si mesmo.

Júlio Baptista: jogador do Roma, costuma dar boas respostas quando chamado no segundo tempo, mas não tem competência para a titularidade. Júlio Baptista faz jogo de imposição física, e talvez isso possa ser útil contra seleções recuadas.

Kléberson: outra aposta do Dunga, mas positiva, a meu ver. Não sei como um jogador com sua qualidade possa ser reserva no Flamengo. Joga muito parecido com Ramires, e me parece uma boa escolha se o princípio tático levar em consideração a movimentação de meio-campo.

Teria levado: Cristian, Ramires, Hernanes, Kaká e Kléberson. E, talvez, Ronaldinho.

ATAQUE

Luís Fabiano: excelente atacante-centroavante. Depende de seu próprio humor para jogar bem, e do condicionamento físico. Atua pelo Sevilla. Luís Fabiano tem uma característica rara para um jogador exclusivamente de área: a capacidade de desenvolver jogadas em espaços minúsculos com ligeira habilidade.

Nilmar: esse talvez seja o grande craque da seleção. Para mim, seria titular ao lado de Luís Fabiano, mas acho que começará como reserva. Joga no Villareal, da Espanha.

Robinho: carimbou seu passaporte naquele amistoso contra a Irlanda, quando marcou dois gols. Estava quase perdendo a titularidade e talvez a chance de ir à Copa. Jogador de muita sorte, mas muito relativo. É habilidoso, mas seu jogo depende de inúmeros fatores emocionais. Deve ser titular ao lado do Luís Fabiano. Joga no Santos. Alguém aí falou em Jonas, do Grêmio?

Grafite: quando todos esperavam Neymar, mas acreditavam que Dunga não faria surpresas, eis que ele faz uma surpresa, mas não leva Neymar. Jogador do Wolfsburg que deve estar atravessando um momento tão ou mais inspirado que Neymar para fazer Dunga convocá-lo. Dunga revelou-se, com isso, o mais covarde treinador de toda a história do futebol brasileiro - e o mais teimoso. Seu critério de convocação ficou, com isso, bem claro: para ser convocado você precisa ter atuado pelo menos uma vez na seleção.

Teria levado: Luís Fabiano, Nilmar, Robinho e Neymar. Ou Luís Fabiano, Nilmar, Jonas e Neymar.

Jonas seria uma aposta tremenda. Mas talvez iria querer aproveitar a fase boa que o jogador vive.

Há mais sete jogadores que o Dunga precisa relacionar para eventuais substituições por lesão até a véspera da estreia na Copa, contra a Coreia do Norte, no dia 15 de junho. A lista será divulgada hoje à noite. Quem sabe Neymar figura entre eles.

ATUALIZAÇÃO: os sete jogadores coringas, que devem ficar à disposição até a estreia, ou seja, até 14 de junho, para o caso de uma eventual lesão, são os seguintes:

Diego Tardelli: seu grande momento foi mesmo no ano passado, em que praticamente "carregou" o Atlético Mineiro. Mas é um jogador de relativa força ofensiva, que sabe jogar dentro da área e, além disso, distribui o jogo muito bem naquele espaço. Entretanto, sou mais Neymar, pelo momento ímpar, como foi o de Ronaldo, Romário e Pelé. Estranhamente não consta nessa lista reserva.

Paulo Henrique Ganso: a maior de todas as apostas recaiu sobre a lista reserva. Um jogador em ascensão. Esse sim eu penso que ainda não seria o momento, porque ele aparentemente está funcionando muito bem dentro de um esquema específico, do Santos. Preferiria, mais uma vez, Neymar, que parece ter um brilho mais espetacular que seu companheiro - e mais individual.

Carlos Eduardo: estranho jogador, perdido lá no desconhecido Hoffenheim, da Alemanha. Não consideraria-o para eventualmente ocupar a vaga de um lesionado. Aqui sim talvez pensaria em Ganso.

Marcelo: jogador do Real Madrid, com grande passagem pelo Fluminense. É certamente essa passagem que fez Dunga lembrar o seu nome, porque, pelo clube espanhol, é um náufrago.

Alex: Dunga realmente deve admirar aquele timaço que o Santos fez há uns anos atrás, com Robinho, Diego e Elano. E deve ser fã do Wanderley Luxemburgo. Zagueiro pesado e discreto demais. Imaginem ele contra um Lionel Messi ou um David Villa...

Ronaldinho Gaúcho: acho que já teve a sua vez, o seu momento. Hoje é regular demais, preguiçoso e, me perdoem, burro. Jogou na Copa América com a disposição de uma mula e, como castigo, não chamaria nunca mais, a não ser por alguma razão muito especial. Outra coisa: jamais rendeu pela seleção o que rendia em seus clubes. Jogador que precisa de um esquema que parta de sua jogabilidade, e não de uma dinâmica coletivizada. É um caso parecido com o de Lionel Messi, que os argentinos acusam de ser preguiçoso na seleção.

Sandro: não por ser colorado, mas esse é um jogador que terá uma grande oportunidade perdida em benefício de um dinossauro, Gilberto Silva. Nem que fosse reserva, mas acho que Sandro é um dos mais promissores primeiros volantes do futebol atual. E aqui deixo uma pergunta: quem vai substituir Gilberto Silva se ele não der conta do recado ou se machucar durante a Copa? Josué? Felipe Melo, questionado na decadente Juventus? Então torçam para só pegarmos seleções com ataques lentos.

De uma maneira geral, ficou claro que o critério de convocação de Dunga foi uma manutenção, de acordo com uma coerência interna, de um time com três resultados expressivos: a Copa América, a Copa das Confederações e as Eliminatórias. E me parece que Dunga é treinador de time experiente, em termos de idade e jogos disputados, afinal as Olimpíadas foram um desastre...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Uma reflexão sobre futebol

Gosto de falar e pensar sobre futebol, como a maioria dos brasileiros. Não sou, atualmente, um desportista, mas, acreditem, já vivi, na juventude, um bom momento como boleiro. Atuei como zagueiro durante alguns anos na escolinha do Cruzeiro, em Venâncio Aires, à época treinada pelo Noca e pelo Eldor, dois ex-jogadores profissionais do Guarani-VA. Hoje em dia a escolinha não existe mais, mas o Noca abriu negócio próprio, e aparentemente ele estabeleceu algum vínculo com as categorias de base do Guarani e, ainda, proporciona uma chance para seus destaques participarem de peneiras em outros clubes.

Quando jovem, entre os 12 e 15 anos, cheguei a ser cotado para atuar mais ou menos em nível profissional, em clube de futebol, disputando campeonatos. Jogava pela esquerda, e, sei que alguns vão achar engraçado, minha maior característica era a velocidade. Corria tão rápido que não bastava o atacante me driblar, quando conseguia, uma única vez, e partir na velocidade. Logo estava à sua frente novamente, incomodando. Não era jogador de cercar adversário. Mordia, ou, como dizem hoje em dia, entrava rasgando, sem esperar. Gostava de atuar pela esquerda, mesmo não sendo canhoto, porque geralmente o jogador adversário mais habilidoso era destro, o que o fazia cair pela ponta direita, sendo minha responsabilidade impedi-lo de desenvolver sua ofensividade. Às vezes atuava também como líbero, ou seja, fazia a cobertura dos demais zagueiros em esquema 3-5-2. Também atuei como lateral-esquerdo, mas nunca me senti muito à vontade apoiando ou criando jogadas ofensivas. Minha disposição sempre foi a de defender o time. Centro-médio, ou seja, aquele jogador que se coloca à frente dos demais zagueiros, quase um primeiro volante mais recuado, não era, também, de minha disposição. Mas enfim, poderia, hoje, estar ganhando um bom dinheiro e na iminência de ser chamado pelo Dunga, sem que, para isso, tivesse que ter qualquer estudo.

Todos sabem que, obviamente, sou torcedor do Internacional, de Porto Alegre. Aqui em casa, contudo, todos são gremistas: mãe, irmã, etc. Minha mulher também se diz gremista, embora eu pense que ser colorada condiziria mais com o seu jeito de ser e pensar o esporte. Mas meu sogro é gremista. Provavelmente houve forte influência daí. Com exceção do meu sogro, o restante não sabe nada sobre futebol, nem sobre o time que eles dizem torcer. Sabem que o Victor e o Jonas jogam no time da Azenha porque atravessam grande fase e ocupam algumas manchetes da mídia, mas mais nada. Minha mulher, porém, não sabe nem quem é o Victor. Se dizer que ele é o centroavante ela provavelmente não saberá nem a função de um centroavante. "É ele quem defende o time, né?", ela perguntará. Mas, tudo bem. Ela se tornou ainda mais gremista pelo fato de eu ser colorado, embora não admita. Mas eu compreendo, afinal existe um sabor especial em ter posicionamento oposto no esporte.

Existe ainda o que Nelson Rodrigues chamava de "complexo de vira-lata", ou seja, o brasileiro, especialmente à época da ditadura, extravasava suas agruras e vibrava em uníssono com as vitórias da seleção brasileira. Era um momento especial de alegria, compartilhado por todas as camadas sociais, mesmo com a ditadura. Assim, embora tudo em volta estivesse ruim, a vitória no futebol proporcionava a vibração da alegria. A partir desse aspecto, hoje em dia não é mais estranho certo comportamento de fanatismo em meio à torcida pelo clube eleito como "do coração", e nem é estranho que esse comportamento seja muitas vezes agressivo em relação a torcedores de outros clubes ou ao próprio clube pelo qual o sujeito torce, quando o time está atravessando uma fase de resultados ruins. Isso porque o torcedor processa esse "complexo de vira-lata" em um nível que, se antes servia como válvula de escape e congregava o povo num efeito quase catártico em relação à ditadura, hoje tornou-se praticamente um problema de ordem psicológica. O que antes era elaborado mais ou menos inconscientemente pelo povo, em meio à alegria que o esporte pode provocar, agora é acionado como um dispositivo de rivalidade. O adversário não está mais no nível da prática do esporte, mas no posicionamento do sujeito ao lado. O "complexo de vira-lata" deixou de ser um sensor coletivo e passou a ser um problema individual. Eu bato no torcedor de outro time e quebro os banheiros do estádio porque eu não posso ser sequer imaginado, em nível nenhum, inferior. O vira-lata já tem consciência de seu complexo e precisa lutar contra esse estigma, sobretudo quando ele é explicitado pela provocação ou sugerido pelo encontro de posicionamentos opostos. A mínima sensação de vira-latice precisa ser combatida - não é mais, com raras exceções, uma catarse. Pelo menos não aqui, no Brasil.

As exceções não são mais coletivas, são individuais. E os indivíduos que não correspondem a essa perspectiva de combate naturalmente se afastam do movimento das torcidas organizadas. Se Nelson Rodrigues estivesse vivo teria que criar um novo termo para se referir a essas manifestações de rivalidade, que só ocorrem no futebol. Pelo menos não lembro de serem praticadas em outros esportes - não coletivamente.

Entretanto, parece que, em se tratando da seleção brasileira, essas manifestações são reguladas por um ímpeto transcendente, que remonta àquele vivido especialmente na década de 70. Não sei como isso irá se configurar este ano, durante a Copa do Mundo, porque Dunga costuma provocar contradições na mesma medida em que geralmente as têm consegue invalidar. Pelo menos conseguiu até aqui - tal e qual Carlos Alberto Parreira, em 1994, quando, contestadíssimo, a nível de escalação e também de postura tática, trouxe para nosso país a taça de melhor seleção do mundo. Se isso não se repetir agora, em 2010, o resultado será, no mínimo, a sua demissão do cargo de técnico da seleção - o que já aconteceu com Wanderley Luxemburgo e Zagallo, embora esse último tenha a vantagem de um currículo praticamente inquestionável, e isso basta para livrá-lo de uma lista negra. Os brasileiros, contudo, o marcarão pelo fracasso, e provavelmente isso terá repercussões na maneira do brasileiro torcer - para o bem ou para o mal.

Voltarei a escrever sobre futebol em futuros posts, bem como também pretendo comentar aqui a Copa do Mundo, especialmente sobre a seleção brasileira. Amanhã sai a lista de convocados, a partir das 13h. Acho difícil surgirem surpresas na lista de Dunga, mas não improvável. Sabe Deus como Dunga pensou a seleção desde o último amistoso e a partir dos jogos que se desenvolveram nos últimos tempos, em que os jogadores atuaram. Pode ser que surja, inesperadamente, uma aposta - como fez Parreira em 94, ao convocar Ronaldo. Mas creio que Dunga é ainda mais ortodoxo que o tetracampeão. Já lanço aqui uma possível reflexão que o técnico pode estar considerando como um critério para a lista: "Sempre fui contestado, e o brasileiro é naturalmente contestador, no que concerne ao futebol. Todavia, até aqui, mesmo contestado, consegui obter bons resultados em competições, às vezes sem um padrão de plena satisfação, o que é normal e é possível de ser corrigido, em alguns aspectos, com treinamentos. Tenho que fazer uma escolha. Então vou optar por manter esta linha de trabalho e, quem sabe, conseguir mais um bom resultado: a Copa do Mundo. Portanto, só vou convocar quem eu já conheço ou conheci no ambiente dos treinos, do vestiário e da concentração. Os demais, que não foram convocados, certamente terão chances vindouras. A questão principal será pensar a preparação e o treinamento".

Se eu estiver certo, não haverá surpresas nem apostas, portanto. E, se eu estiver mais ou menos certo em relação à reflexão que presumo que Dunga esteja seguindo, devo admitir que ele não está completamente equivocado, afinal, ele precisa realmente fazer uma escolha, independente de qualquer juízo amador ou midiático. Essa escolha é ela mesma a aposta. Entretanto, ele precisa também verificar a atual configuração da qualidade do grupo que imagina ideal, e, para tanto, precisa pensar certos jogadores individualmente, mesmo que sua meta seja prepará-los coletivamente. Ir do indivíduo ao coletivo: essa é a dinâmica fundamental do futebol. E, nesse âmbito, penso que há jogadores que, se convocados, mesmo que num outro momento foram de certa forma efetivos, já não são mais capazes de exercer essa dinâmica melhor que alguns outros. Esses - alguns momentaneamente vivendo um primor técnico -, se não convocados, terão seu talento desperdiçado. Dunga pode apostar, mas desperdiçar parece tolice, embora tudo indique, em sua filosofia de trabalho, que o que precisava ser renovado já teve o seu momento para acontecer. Veremos.

sábado, 8 de maio de 2010

Preview de cinema

Como prometido, elaborei uma lista com algumas produções interessantes que encontram-se em produção ou em desenvolvimento avançado de ideia, pertinho do início das filmagens. Importante salientar que as traduções dos títulos originais não são oficiais, bem como as sinopses.

Se alguém quiser colaborar, utilize o espaço dos comentários.


 
Cópia certificada (Copie conforme) é o novo trabalho do excepcional diretor iraniano Abbas Kiarostami. O filme terá Juliette Binoche no elenco e a produção é francesa. O que se sabe por enquanto da história é que escritor inglês e mulher francesa partem em viagem de trem pelo interior da Itália.


O grão-mestre (The grand master), novo filme do chinês Wong Kar Wai, tratará sobre a história de Ip Man, o homem que treinou Bruce Lee. A produção é chinesa. No elenco o premiadíssimo colaborador habitual de Kar Wai, Tony Leung. A fotografia será de Phillipe Le Sourd, pela primeira vez trabalhando com Kar Wai em um longa. A estreia, como podemos ver no primeiro cartaz promocional, está prevista para 18 de dezembro deste ano. Será interessante ver Kar Wai em um trabalho como esse, cujas coreografias serão de Yuen Wo-Ping, que trabalhou em filmes como Matrix, Herói, O tigre e o dragão e Kill Bill, além de ter dirigido vários filmes chineses de artes marciais.



A árvore da vida (The tree of life) é o novo filme do americano Terrence Malick. A história acompanha a jornada evolutiva de três jovens a partir dos anos 50 - e a perda da inocência, como enfatizam as sinopses em inglês. No elenco Brad Pitt e o ótimo Sean Penn. Ainda não há uma data oficial para a estreia. Em sabendo do perfeccionismo de Malick, creio que, talvez, conheçamos sua nova obra no segundo semestre. A fotografia é de Emmanuel Lubezki, sempre um primor, e a música é de Alexandre Desplat, talvez o maior compositor surgido nos últimos dez anos.


A era da tatuagem (Ciqing shidai, ou, The age of tatoo) deve ser o próximo trabalho do mestre chinês Jia Zhang Ke. Não há informações, ainda, sobre o enredo. Antes, entretanto, Jia Zhang Ke deve aparecer num desses projetos de coletânea de curtas que estão virando moda, Moving the arts, ao lado de diretores consagrados, como o egípcio Atom Egoyam.


A cidade perdida de Z (The lost city of Z) deve ser o próximo filme do brilhante diretor americano James Gray, uma adaptação da obra de David Grann que acompanha a verídica busca de Percy Fawcett pelo eldorado nos recônditos da floresta amazônica. Há rumores de Brad Pitt no papel do protagonista. Rumores recentes, contudo, apontam um outro projeto, Alphabet city.


Os descendentes (The descendants) é o próximo filme de Alexander Payne. Segundo o que se sabe do enredo, um barão e suas duas filhas comprometem-se em missão de manter sua família, após um acidente de barco em que a matriarca não sobrevive. Para o elenco, George Clooney. Na produção, Jim Taylor, habitual colaborador de roteiro de Payne, é apenas produtor.


Socialismo (Socialisme) é o novo trabalho de Jean-Luc Godard. Aparentemente não terá caráter de documentário.


Três (Drei, ou, Three) será o próximo filme do alemão Tom Tykwer. Na história, casal quarentão apaixona-se, tanto o homem quanto a mulher, por um mesmo homem.



De hoje em diante (Hereafter) é o novo trabalho de Clint Eastwood, que está sendo produzido por Steven Spielberg. O filme já foi comentado aqui neste blog. Eastwood já engatilhou seu próximo filme: Hoover.

Vou estar de olho no que vem por aí no cinema. Este post, portanto, está sujeito a atualizações. Qualquer dia desses faço um só com produções pipoca, ou coisas de gênero.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Mironeando



O pintor catalão Joan Miró é um daqueles artistas especiais que me envolvem em fascínio. Conheço sua obra há muito tempo, e cheguei a estudá-la há uns dois anos atrás. Sinto em sua pintura um frescor infantil que se deixa envolver pelo traço e pelo pincel apurado, num envolvimento despojado, mas ao mesmo tempo elegante. Essa elegância, entretanto, é também deselegante, mas há, contudo, um certo tipo de charme burlesco nessa contradição - uma quase brincadeira, afinal, com a irregularidade, ou, com a realidade espontaneamente imaginada. Miró é o pintor da espontaneidade do sonho, da surpresa e, por isso, da vivacidade.



Parece ser uma tendência incoercível do pintor elaborar relações de cores, especialmente as chamadas "quentes". Em conjunção, essas cores produzem um resultado que, à visão, é irresistível. Há uma relação especial entre o olhar e a cor, e Miró soube como poucos explorar esse aspecto. Parece muito simples alcançar um resultado vivaz optando por cores quentes, mas tente fazer isso em sua casa. Para Miró não importa a especificidade da cor, mas a relação que ela irá estabelecer para com todos os elementos circunscritos, entre eles as demais cores. É o que podemos chamar de colorido, no sentido mais vigorosamente lírico do termo.



Outros elementos peculiares em Miró são as formas de seus trabalhos, que estão entre as mais singelas que conheço em pintura. Disso, além das cores, resulta um frescor infantil saboroso à experiência visual, o que torna a obra desse pintor quase sinestésica. Na maioria das vezes desenvolvidas pelo traço, as formas mironeanas representam elementos típicos de um universo ao mesmo tempo ínfimo e espetacular - e quase sempre aéreo. O ar é sem dúvida o chão de Miró. Seu cromatismo e geometria surreais parecem fluir espontaneamente de alguém que, paradoxalmente, sonha acordado.



O arrojo lírico com que Miró trabalha suas cores e suas formas lembra-me imediatamente Manoel de Barros, que concebe uma disposição sígnica propositadamente irregular com um valor de significação muito parecido com o do pintor espanhol. Ambos, em suas linguagens, propõem uma poética de criançamento de valores - um depois e o outro antes da realidade, ou tudo ao mesmo tempo. Suas imagens surpreendem, lembram a vivenciação de uma criança. E da surpresa só pode restar a energia da vivacidade - especialmente quando trata de aspectos que foram marcantes em nossos sonhos infantis, e que descobrimos pela linguagem de nossos sentidos e pela força (re)criadora de nossa imaginação.



Se Miró é surreal, no sentido estrito do termo, digo que é muito bom o seu sono.